Etapas de Identificação
 
       Essa seção tem por objetivo apresentar as etapas responsáveis pela identificação ou pelo reconhecimento de uma íris. As etapas a serem apresentadas são as seguintes: Aquisição, Pré-processamento, Codificação e Comparação.

Aquisição

       A etapa de aquisição é responsável por obter a imagem de um olho. Apesar do foco ser o reconhecimento da íris, nessa etapa ainda são obtidas outras partes próximas à região da íris, como a esclerótica e os cílios. Máquinas digitais ou normais podem ser utilizadas nessa etapa, assim como os raios infravermelhos (Maltez et al.).
Além disso, algumas características são consideradas ao obter a imagem, a fim de evitar o máximo de atenuações ou perturbações que a imagem pode sofrer. Dessa forma, as principais características são as seguintes:
  • Luminosidade
  • Angulação
  • Proximidade

       Dentre as características, a luminosidade está diretamente relacionada ao ofuscamento da imagem, pois a existência de uma alta ou baixa luminosidade acarreta em uma imagem com menor contraste entre as diferentes colorações, o que dificulta a identificação, por exemplo, da região da íris ou a presença de um cílio na imagem. Já a angulação auxilia em uma padronização da imagem, a fim de que as imagens obtidas posteriormente apresentem as mesmas propriedades e que obtenham o máximo possível da região da íris. Para isso, o ângulo entre o plano da íris e a direção da lente da máquina fotográfica deve ser aproximadamente reto. A proximidade deve ser cuidadosamente estipulada, uma vez que esse valor deve ser o mais próximo possível para obter máxima qualidade da imagem capturada, ao mesmo tempo em que necessita está a uma distância que capture toda a região da íris. Vale ressaltar também que para o reconhecimento é necessário que essas imagens apresentem essas características em graus próximos, para que a comparação seja confiável. (Maltez et al.)
       Além dos fatores influenciados pelo meio ou pelo próprio equipamento de captura, existem os fatores fisiológicos. Um exemplo é a variação da dilatação da pupila, em que ao desejar observar objetos longes com maior precisão, a pupila contrai e obtém a imagem com uma nitidez maior. A ocorrência disso implica que a área da íris captada é maior e, consequentemente, fornecerá imagens da íris com diferenças de informação.

Pré-processamento
 
       O pré-processamento está diretamente relacionado à utilização da imagem adquirida na etapa anterior com o intuito de capturar as propriedades relevantes à identificação da íris. Portanto, o principal objetivo do pré-processamento é a eliminação de diversas partes da imagem, como a esclerótica, a pupila e os cílios que, por ventura, possam estar sobrepondo a íris. (Maltez et al.)


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       Imagem 2 - Exemplo de imagem com as limitações da íris capturada (Retirada de Hollingsworth et Al.)

       O algoritmo de Canny é um exemplo de algoritmo que busca a captura das limitações da íris em forma de circunferências.  Com esse intuito, utiliza-se o gradiente (Fórmula 1) capaz de transformar duas equações em uma terceira, através da aplicação do conceito de convolução. Para a obtenção desse gradiente utilizam-se como fatores a direção da aresta detectada (n) sobre o diferencial de uma gaussiana de duas dimensões (
graphic) para representar uma superfície suave, garantindo a limitação da região da íris.

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Fórmula 1 – Obtida a partir do algoritmo de (Canny)

       Outra técnica que também trabalha com a aplicação de convolução é proposta por (Daugman). Essa técnica é baseada em um operador capaz de localizar uma íris, uma vez que busca obter uma imagem com boa qualidade e localização das fronteiras existentes da íris com a maior precisão possível. Essa região de fronteira é determinada pela esclerótica e pela pupila.
       Em função da geometria circular da íris, Daugman propôs a Fórmula 2 para realizar a separação da íris de outras propriedades presentes em uma imagem que não auxiliam no reconhecimento, como os cílios. Para isso, alguns parâmetros precisam ser definidos: I(x,y) ; r ; graphic; graphic;graphic; e graphic. I(x, y) é a imagem de entrada com um olho fornecida para análise. r é o raio da íris presente nessa imagem, considerando a região da pupila.graphic e graphicfornecem o centro da imagem formada pela íris. Já a função graphic fornece auxílio no tratamento de ruídos, uma vez que qualquer atenuação que possa interferir no reconhecimento da íris, essa função oferece a suavização dessas perturbações. Como exemplo, pode-se citar o brilho em excesso. Normalmente a função utilizada é a gaussiana. Por último, o parâmetro de escala graphicé responsável pela identificação do contorno circular da íris, a partir do estabelecimento de um determinado grau para análise.

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Fórmula 2 – Proposta por (Daugman)

Codificação
 
       O processo de codificação está pautado no uso do resultado obtido da etapa anterior para a transformação das propriedades restritas à região da íris em uma forma de código. Para isso, um dos mecanismos eficientes utilizados, proposto por (Daugman), é baseado em filtros de fasor em quadratura 2-D (2-D quadrature phasor filters).  Esses filtros são empregados para obter o comportamento espacial, da orientação e da posição das frequências. A fase é a propriedade da frequência utilizada, devido a dois motivos: a fase consegue armazenar maior quantidade de informação em relação à amplitude; e a fase não tem perdas de informação, quando a qualidade da imagem é alterada, pois os ângulos não se alteram.
       A partir desses filtros é possível determinar uma base de wavelet, sendo que essa estrutura possibilita a representação de frequências analisadas nos filtros, através do estabelecimento de outras funções que utilizam a frequência. Assim, a Fórmula 3 foi proposta por (Daugman) com a finalidade de trabalhar com wavelet para o uso das frequências dos filtros no processo de codificação das informações presentes na íris. Essa fórmula é chamada de Wavelets 2-D de Gabor.
Pela Fórmula 3, graphicé um bit que representa um número complexo com uma parte real e outra imaginária iguais a 0 ou 1. O sinal desse valor será diretamente relacionado ao sinal da integral. graphicrepresenta a imagem da íris informada através do sistema polar (Figura 1).graphice graphicsão utilizados para representar as variáveis do wavelet 2-D em multi-escala. Já a variável graphicrepresenta a frequência do wavelet.
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Fórmula 3 – Proposta por (Daugman)
 
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Figura 1 – Representação polar da íris
 
       Durante a descrição da etapa de aquisição, o problema na captura da imagem em relação à dilatação da pupila foi levantado e a solução está representada na Fórmula 3, uma vez que a dilatação momentânea da pupila pode ser corrigida, através da representação escolhida, pseudo-polar.
       Para a utilização desse modelo, os sistemas normalmente usam 256 bytes com o propósito de representar a imagem da íris. Contudo existem alguns sistemas que trabalham com 512 bytes, sendo que os 256 bytes adicionais representam os fatores de interferência na imagem, como o reflexo. Além disso, a utilização do quadrante de fase favorece a mudança em apenas um bit por vez ao visitar um quadrante adjacente, diminuindo relativamente a probabilidade de erro.

Comparação
 
       A última etapa no processo de reconhecimento de íris está pautada na identificação de um indivíduo a partir da íris fornecida no momento e a já armazenada no sistema. O processo de comparação apresentado a seguir foi proposto por (Daugman). Para constatar a probabilidade de dois olhos com íris diferentes serem avaliados como iguais (afirmar que duas íris são iguais, enquanto não são), um teste de independência é empregado. Esse teste é baseado na seguinte estrutura: se dois processos de codificação referentes a duas íris diferentes são realizados e obtém-se como resultado que eles são diferentes, podemos acrescentar um caso positivo para uma variável
graphic, que corresponde a ocorrência de haver duas íris diferentes. Após várias execuções desta estrutura, podemos dizer que o valor total de comparações realizadas é graphic . Portanto, podemos concluir que a probabilidade P de duas íris diferentes serem detectadas como iguais é de:

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Fórmula 4 – Probabilidade de duas íris diferentes serem detectadas como iguais.

       O mesmo teste de independência (Daugman) pode ser desenvolvido a partir de operadores lógicos, como AND (símbolo
graphic) e XOR (símbolographic), sendo o XOR formado por um conjunto de primitivas lógicas. A modelagem desse teste está baseada na comparação entre dois bits, através do operador XOR, e na garantia de que elementos presentes na imagem (cílios, pálpebras ou qualquer ruído) não interfiram na comparação, através do operador AND. Como apresentado anteriormente, o código da íris trabalha com 256 bytes (equivalente a 2048 bits) e esse é utilizado em comparações de cada bit de duas íris diferentes, através da comparação de bits dois a dois, conforme a Fórmula 5. Ou seja, o primeiro bit do código 1 de íris é comparado com o primeiro bit do código 2 e, após finalizada a comparação, os segundos bits do código 1 e 2 são executados, e assim por diante (até completar a comparação dos 2048 bits). (Hollingsworth)
 
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Fórmula 5 – Teste de Independência proposto por (Daugman)
 
       A variável HD (Fórmula 5) é nomeada como Distância de Hamming (Hamming Distance). Essa variável é igual ao percentual da diferença entre o código de duas íris. Para código de íris diferentes, o valor mínimo para HD é 0.5, uma vez que valores inferiores implicam logicamente que os códigos apresentam mais semelhanças do que diferenças.
       No artigo do (Daugman), a Figura 4 apresenta uma distribuição das distâncias de Hamming para uma população de 2.3 milhões de íris. Pelo gráfico é possível perceber que quando a distância de Hamming tende a valores próximos de 0.0 ou 1.0, a probabilidade de detectar que duas íris são iguais, enquanto elas são diferentes, é maior.