5. Outros Aspectos

Impacto sobre a rede

As transferências usando o protocolo BitTorrent são responsáveis por grande parte do tráfego da Internet. Apesar dos números contraditórios, todos indicam que a fatia do BitTorrent  atualmente superam um quinto de todos os dados que passam pela Internet.

Segundo uma pesquisa de 2007 da empresa Ipoque, especializada em gerenciamento de banda de redes, os pacotes BitTorrent representaram 40% de toda a banda mundial [23], já levando em conta as variações regionais. Pesquisas de 2004 [24] e 2006 [10] já haviam mencionado valores de 35% e 18%, respectivamente.

O enorme consumo gerado pelos programas de compartilhamento par-a-par tem impacto direto sobre as redes dos provedores de Internet, que não haviam se preparado adequadamente, principalmente na banda alocada para envio de dados (upload). Está se fazendo necessária a expansão dessas redes, e a conseqüência é um aumento dos custos operacionais que, se não for repassado para os consumidores, significará uma estabilização da relação mensalidade/banda, a qual, normalmente, tenderia a cair.

Aplicações

Apesar de o uso principal ser o compartilhamento ilegal de músicas, vídeos e programas protegidos por direitos autorais, existem diversas aplicações legais para as redes BitTorrent.

A hospedagem e transferência de arquivos grandes, da ordem de centenas de megabytes, é muito cara; por esta razão, vários programas de código aberto vêm optando por distribuir suas versões novas através de BitTorrent, diminuindo fortemente seu custo.

Algumas companhias desenvolvedoras de jogos adotaram a plataforma BitTorrent DNA para distribuir atualizações de jogos. Este é um problema clássico, pois quando uma atualização é lançada há um número excessivo de requisições de downloads, sobrecarregando os servidores que as hospedam; o uso de uma solução P2P inverte a situação, pois aproveita a capacidade de upload destes jogadores para distribuir as atualizações e correções (patches) de forma mais rápida e barata.

Questões legais

O protocolo BitTorrent em si e os aplicativos que o implementam não ferem, por si só, nenhuma lei. Entretanto, os arquivos compartilhados são freqüentemente protegidos por direitos autorais e a ação de troca é, portanto, ilegal, e aqueles que compartilham estes arquivos estão sujeitos a processos.

A questão dos servidores de rastreamento é menos clara. Os responsáveis por estes servidores mantêm a posição de que não estão armazenando nenhum conteúdo ilegal, mas as corporações antipirataria argumentam que estes servidores facilitam ativamente a troca de tal conteúdo e devem, portanto, ser fechados.

O caso do site The Pirate Bay, que indexa arquivos de vários rastreadores, além de possuir o seu próprio, é emblemático: seus servidores hospedados na Suécia já foram interditados pela polícia local [22], seus mantenedores foram acionados na justiça por promoverem a quebra de direitos autorais por outros, mas o site permanece no ar até hoje, após uma breve passagem por servidores holandeses. O site ainda possui uma seção “Ameaças Legais”, na qual ridiculariza as tentativas de ações legais que já sofreu.

Veja mais: Legalidade do P2P.

Traffic shaping

A prática do traffic shaping (formatação do tráfego) consiste na análise dos pacotes que estão trafegando pela rede, e no atraso forçado daqueles que atendem a algum critério. Os casos que despertam mais atenção são aqueles em que os provedores de serviço (ISPs) interferem nas transmissões de redes P2P, inclusive do BitTorrent, sob a alegação de que o fluxo intenso causado por estes programas, normalmente por uma parcela pequena dos consumidores, prejudica a qualidade dos outros serviços, como navegação web e e-mail, utilizada pela maioria dos assinantes. Os afetados por esta prática afirmam que esta ação é ilegal, pois a banda contratada não lhes está sendo disponibilizada. Esta é uma disputa legal que ainda não encontrou uma solução definitiva.

A classificação dos pacotes pode se dar através da observação do número da porta com a qual o usuário está se comunicando, ou por uma análise do próprio conteúdo do pacote, com o fim de detectar o protocolo e, portanto, o serviço que está sendo usado.

No caso do BitTorrent, os pacotes iniciais (handshake) entre dois pares caracterizam-se por começar por um byte de valor 19, seguidos pelo texto “BitTorrent protocol”. Quando este pacote é capturado, pode-se assumir que toda a comunicação que se dará por essa conexão, ou seja, todos os pacotes que trafegarem entre as mesmas portas dos mesmos usuários (endereços IP) serão pacotes BitTorrent, e a identificação para desaceleração desses pacotes torna-se simples. Por esta razão, a melhor forma de se evitar o traffic shaping é o uso de criptografia, pois a identificação do protocolo usado torna-se mais difícil. Para o caso de serviços ou protocolos que usam uma porta fixa ou comum, pode-se também mudar a porta, pois o gerente da rede pode estar usando um capturador com base apenas no número da porta.

As duas formas mais comuns de causar atraso nos pacotes são o simples descarte de alguns pacotes (que terão de ser reenviados mais tarde – e mais devagar – pelo sistema final que os emitiu) e o uso de algoritmos como o balde furado (leaky bucket), que limitam a velocidade máxima com a qual um fluxo de tráfego pode passar pela rede.

Clientes

Um cliente é um aplicativo que implementa o protocolo BitTorrent, podendo ser um programa isolado, um programa que conecta-se a várias redes de compartilhamento ou um plugin ou extensão para outro programa. Alguns dos principais clientes são:

Figura 4: Tela do cliente oficial BitTorrent.
Figura 4: Tela do cliente oficial BitTorrent.

BitTorrent: o cliente original foi desenvolvido em Python por Bram Cohen, criador do protocolo, com código aberto. Ele possuía uma interface extremamente simples e leve. Após a versão 6, passou a ser uma cópia do uTorrent.

uTorrent: o cliente mais utilizado, tem como principal fator de destaque ser muito pequeno, na ordem das centenas de kilobytes, enquanto mantém a eficiência. Possui várias funcionalidades de outros clientes maiores, como seleção de arquivos individuais para download.

Azureus: um cliente baseado em Java e, portanto, multiplataforma. É integrado a uma plataforma social chamada Vuze, que acrescenta ao programa um sistema de chat, comentários e avaliações, entre outros.

BitComet: um dos primeiros clientes a incluir um gerenciador de downloads, o BitComet fez com que opções como priorização de downloads tornassem-se um padrão. Após ser banido em diversos servidores por abusar o protocolo reportando dados falsos e utilizando algoritmos agressivos, sua popularidade caiu.

Opera: o navegador web é capaz de operar o protocolo BitTorrent nativamente desde a versão 9.