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Comunicação

 

O estabelecimento da comunicação entre as etiquetas e os leitores em RFID se dá através da utilização de protocolos. Estes são um conjunto de regras que coordenam o fluxo de informações entre os dois elementos do sistema. Definem uma interface aérea de comunicação, onde o sinal será transmitido, especificando qual o tipo de modulação e qual será o tratamento dado às inevitáveis colisões causadas pela interferência dos sinais com frequências parecidas, gerados simultaneamente, por diferentes etiquetas em resposta ao questionamento do leitor.  

Como a evolução do RFID, durante o século XX, foi lenta, sistemas foram desenvolvidos separadamente e com arquiteturas proprietárias por cada fabricante. Muitas vezes utilizava-se uma tecnologia que seria útil para uma atividade específica (restringindo sua aplicação àquela atividade), ou ainda pior, com as arquiteturas proprietárias, cada tipo de sistema obedece as exigências de seu fabricante sem que outras empresas ou companhias tenham acesso à tecnologia, consequentemente, há também uma grande diversidade desses sistemas dentro de uma mesma atividade.

Sob essa perspectiva, nota-se que é evidente a necessidade de uma padronização dos sistemas utilizados em RFID. Existem, principalmente, duas organizações que vêm tentando estabelecer uma padronização: A ISO/IEC e a EPC Global. A criação de um padrão diminui bastante o custo devido à maior compatibilidade entre diferentes tipos de sistemas, facilitando sua implantação e disseminando, ainda mais, esta tecnologia ao redor do globo.

ISO/IEC

            A ISO (International Standards Organization) e a IEC (International Electro-technical Commision) se juntaram em um subcomitê (ISO/IEC JTC1) para estabelecer normas em sistemas de RFID.  Essas normas se dividem para diferentes tipos de aplicações da tecnologia e para diferentes frequências de operação de sistemas passivos.

Não existem muitos padrões para sistemas RFID de baixa frequência porque estes, geralmente, estão em ambientes facilmente controláveis e, por isso, não demandam grande interoperabilidade. No entanto, em aplicações como rastreamento animal há necessidade de certa padronização. Portanto, algumas normas foram criadas: ISO 11784 e ISO11785.

Para cartões de identificação e dispositivos relacionados, funcionando à alta frequência, são utilizadas atualmente as seguintes normas de padronização: ISO 10536, ISO 14443 e ISO 15693.

Nos sistemas de RFID mais utilizados atualmente, AIDC (“Identificação Automática e Captação de Dados”) e tecnologias de gestão que são largamente aplicados em cadeias de abastecimento, foram criadas normas para todas as frequências de operação, desde sistemas de baixa frequência até sistemas que operam nas microondas. Vale destacar dentre as normas criadas a ISO 18000, que é dividida em sete partes e especifica as frequências utilizadas nas interfaces aéreas de comunicação.    

 

ISO 18000-1: Normas gerais para frequências adotadas mundialmente

ISO 18000-2: Normas para sistemas RFID com frequência abaixo de 125 kHz

ISO 18000-3: Normas para sistemas RFID com frequência de 13.56 MHz

ISO 18000-4: Normas para sistemas RFID com frequência de 2.45 GHz

ISO 18000-5: Normas para sistemas RFID com frequência de 5.8 GHz

ISO 18000-6: Normas para sistemas RFID com frequência de 860-930 MHz

ISO 18000-7: Normas para sistemas RFID com frequência de 433 MHz

EPC Global

É uma organização sem fins lucrativos que visa uma maior padronização dos sistemas RFID através da criação do EPC (“código eletrônico do produto”) que é único para cada objeto, e da criação do que se chama: EPC Network (“rede EPC”) que funciona como se fosse uma internet de objetos. Cada empresa tem um servidor PML(Product Markup Language- “Linguagem de Marcação de Produto”) associado que são regidos por servidores ONS (Object Name Server- “Servidor de Nome de Objeto”), os últimos nomeiam cada objeto. Fazendo uma analogia com a internet comum, os servidores PML seriam os servidores Web e os ONS seriam os servidores DNS. Dessa forma, tem-se um inventário completo de cada produto sem a necessidade de nenhuma intervenção humana no sistema. 

O EPC que atende às necessidades atuais de mercado é composto de 96 bits, sendo os 8 primeiros bits o cabeçalho, os 28 bits seguintes especificam o fabricante daquele determinado EPC, os próximos 24 bits revelam qual é o tipo do objeto e os últimos 36 bits indicam é o número de série daquele objeto específico.   

 Cabeçalho      Fabricante do EPC               Tipo de objeto                      Número de série

   8 bits                   28 bits                                     24 bits                                    36 bits

 

            A EPC Global também criou padrões para as suas etiquetas no que diz respeito a tecnologia empregada à elas. Variam da Classe 0 até a Classe 5. Onde as classes 0 e 1 são etiquetas passivas de apenas leitura; a classe 2 é composta de etiquetas passivas de leitura/escrita com uma maior funcionalidade; a classe 3 são etiquetas semi-passivas com algum tipo de fonte de alimentação; a classe 4 são etiquetas ativas com funções similares as da classe 3, no entanto, também possuem a capacidade de se comunicar com outras etiquetas da mesma classe e, finalmente, a classe 5 são as etiquetas ativas de leitura que tem funcionalidades similares as da classe 4, mas também possuem a capacidade de energizar etiquetas das classes 1 e 2, e estabelecer comunicação passiva com as etiquetas da classe 3.

As etiquetas mais utilizadas, ou seja, as que são aplicadas na indústria, são as mais simples e, portanto, as mais baratas (EPC Classe 1). No entanto, esse tipo de etiqueta não se mostra tão mais eficiente no que diz respeito à capacidade de armazenamento de informação que o código de barras e, por isso, sofreu certa represália. Para contornar a situação e fazer com que o RFID se tornasse mais eficiente, criou-se a EPC Classe 1, Geração 2, que tem maior capacidade de armazenamento e mais funcionalidades, o que motivou uma  maior adoção por empresas que já utilizavam RFID amplamente, como Wal-Mart e DoD, e por outras que ainda não usufruíam da tecnologia. O sucesso dessa segunda geração fez com que a ISO reconhecesse a EPC C.1 G.2 como padrão internacional. Este tipo de etiqueta funciona, na grande maioria das vezes, nas frequências ultra-altas.

Protocolos padronizados mais utilizados:

Baseados em algoritmos tipo “árvore”:

            Um dos exemplos desse tipo de algoritmo utilizado atualmente é o Protocolo Anti-colisão Btree usado nos padrões ISO 18000-6-B. Esse protocolo funciona utilizando uma transmissão em blocos (slots) e selecionando um valor aleatório para decidir quais etiquetas irão transmitir seu código de identificação para o leitor. Há apenas um bloco permitido para a transmissão, é o bloco de valor zero. Ocorrerão colisões se mais de uma etiqueta contiver o valor zero. Caso isso aconteça estas etiquetas deverão escolher aleatoriamente entre zero e 1, e as outras (as que não continham o bloco zero no início) incrementam o valor de seus blocos. As etiquetas que escolheram aleatoriamente o valor zero continuam colidindo e as que escolheram 1 tem seu valor incrementado e, por isso, não enviam mais seus sinais. O processo é repetido até que exista apenas uma etiqueta com valor zero. Quando isso ocorre, as outras etiquetas, então, podem ter seus valores decrementados.

            É possível calcular que o número de iterações necessárias para identificar uma etiqueta em meio a outras N-1 é dado por:

L= (log2(N)) + 1

Ou seja, para identificar uma única etiqueta em uma amostra de 64 etiquetas são necessárias 7 iterações.  

Baseados em compartilhamento do canal de comunicação (algoritmos ALOHA):

            Dois exemplos desses algoritmos anti-colisão são o ALOHA FST (Fast Slot Mode) utilizado em padrões ISO 18000-6-A e o Random Slotted (ou algoritmo Q) utilizados nos padrões ISO 18000-6-C e EPC C.1 G.2, que são equivalentes.

            O funcionamento do algoritmo Q também é baseado na geração de um número aleatório, para um bloco, que terá seu valor armazenado em cada uma das etiquetas presentes na área de leitura. O valor dos blocos é decrementado, seguindo instruções do leitor, até que uma etiqueta contenha o bloco de valor zero e então possa enviar seu sinal de identificação para o leitor.

            A grande diferença entre esse e outros algoritmos ALOHA é que o Random Slotted permite que as etiquetas funcionem na presença de múltiplos leitores. Isso ocorre devido à criação de sessões. Cada etiqueta será configurada para pertencer a uma delas e cada leitor será configurado pra varrer cada uma das sessões.

            O processo de identificação da etiqueta acontece em três camadas: a camada de seleção, na qual é selecionado um conjunto de etiquetas para inventário e acesso; o inventário, no qual o leitor faz um pedido de leitura para identificar uma das quatro sessões para inicialização; e a camada de acesso em si, que consiste na leitura/escrita na etiqueta.

            O algoritmo escolhe determinadas etiquetas para participarem do processo de identificação. Essas etiquetas devem escolher, aleatoriamente, um valor para seus blocos (slots) entre zero e (2N – 1) e a etiqueta que escolher o valor zero para seu bloco irá começar a transmissão de dados com o leitor.

            Assumindo o caso mais simples em que somente uma etiqueta responde o algoritmo segue:

1)      A etiqueta envia um valor aleatório de 16 bits para o leitor;

2)      O leitor confirma com um ACK e retorna a mesma seqüência de 16 bits;

3)      A etiqueta, enfim, envia seus dados identificadores;

4)      O leitor manda um sinal de volta deixando a etiqueta identificada novamente pronta para ser lida e decrementa em uma unidade o valor do bloco de todas as outras;

5)      A próxima etiqueta que atingir o valor zero inicia o processo desde o passo 1.

Este algoritmo possui uma performance de 36.8%.

        


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