2. Protocolos
   
     De forma a viabilizar a transmissão de dados em uma rede, existem diversos protocolos e especificações técnicas. Para redes de sensores sem fio, os que melhor se encaixam são Wi-Fi (IEEE 802.11), Z-Wave, Bluetooth e ZigBee (IEEE 802.15.4).
2.1 Wi-Fi (IEEE 802.11)
     Os padrões IEEE 802 se focam sobre a camada física (PHY) e a camada de acesso médio (MAC). Quando WLANs (Wireless Local Area Networks) foram concebidas, pensou-se que se tratava de outra PHY de algum dos padrões disponíveis. O primeiro candidato a padronizar este tipo de comunicação foi o 802.3 (Ethernet). Era óbvio, todavia, que o meio do rádio é muito diferente do fio. Devido também às fortes atenuações, mesmo em curta distância, colisões não eram detectadas, tornando o 802.3 carrier sense multiple access with collision detection (CSMA/CD) inaplicável para a comunicação sem fio.
     Outras tentativas similares com diferentes padrões foram consideradas sem sucesso. Em 1991, o projeto 802.11 foi aprovado, sendo o primeiro padrão publicado em 1997. Na camada mais baixa (PHY), o padrão propunha três soluções: frequency hopping (FHSS) e direct sequence spread spectrum (DSSS) PHY na banda não licenciada de 2,4 GHz, e um PHY infravermelho em 316-353 THz (cujas implementações comerciais não existem). A impossibilidade de detecção de colisão levou à implementação de um sistema de collision avoidance (CSMA/CA), o qual consiste em esperar durante um intervalo antes da transmissão de cada quadro invés de depois da colisão.
     Uma vez publicado o padrão, recebeu-se um feedback negativo a respeito de compatibilidade entre produtos de diferentes fabricantes. A necessidade de um programa de certificação resultou na fundação da Wireless Ethernet Compatibility Alliance (WECA), posteriormente renomeada para Wi-Fi Alliance.
     O grande impacto comercial da certificação Wi-Fi abriu caminho para diversos programas de melhorias e extensões do padrão 802.11, a citar:
  • 802.11a transmite a 5 GHz e pode mover até 54 Mb de dados por segundo. Utiliza também orthogonal frequency-division multiplexing (OFDM), uma técnica de codificação para redução de interferência que divide o sinal de rádio em vários subsinais antes de estes chegarem ao receptor.
  • 802.11b é o padrão mais lento e barato. Transmite a 2,4 GHz e pode transmitir até 11 Mb de dados por segundo. Utiliza complementary code keying modulation para aumentar velocidades.
  • 802.11g transmite a 2,4 GHz, tal como 802.11b, porém mais rapidamente– pode chegar a 54 Mb de dados por segundo. Esse aumento da velocidade é possível porque este padrão utiliza a mesma codificação OFDM que 802.11a.
  • 802.11n é um dos mais novos padrões disponível, o qual melhora significativamente as taxas de velocidade e alcance. A velocidade nominal é de 300 Mb por segundo e o uso de múltiplos fluxos de transmissão torna o alcance do sinal quase duas vezes maior em relação ao 802.11g.
 
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Figura 10 – Ponto de acesso e placa 802.11n
 
     Wi-Fi pode ser perfeitamente implementado em redes de sensores sem fio. Comparativamente com outros protocolos, no entanto, não é o mais indicado, devido à sua maior largura de banda, consumo de energia e preço. Seu emprego é indicado em aplicações que necessitem de transmissão de áudio e vídeo.
2.2 Z-Wave

     Z-Wave é uma tecnologia de transmissão sem fio propriedade da Zensys Inc. Esta empresa é responsável pelo desenvolvimento de soluções em automação residencial (domótica). A tecnologia é projetada com o intuito de unificar diversos equipamentos eletroeletrônicos em uma central de controle doméstico. Entre as funções controladas remotamente estão: iluminação, alarme e monitoramento por câmeras, ar-condicionado, som, televisão, computadores entre outras funções. A figura abaixo de [46] ilustra o monitoramento com Z-Wave.
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Figura 11 – Ilustração de aplicabilidade Z-Wave

     Características como baixo custo, baixo consumo de energia, simplicidade e menos necessidade de memória tornam a Z-Wave uma forte concorrência para a tecnologia ZigBee na área de automação residencial. No entanto, o fato desta tecnologia ser uma propriedade é uma grande desvantagem, pois o cliente deste sistema de automação fica dependente de um único fabricante.
2.3 Bluetooth
    
      “A tecnologia Bluetooth é uma tecnologia de comunicação sem fio destinada a substituir os cabos de ligação de dispositivos portátil e/ou fixos, mantendo elevados níveis de segurança. As principais características da tecnologia Bluetooth são a robustez, baixo consumo de energia e baixo custo. A especificação Bluetooth define uma estrutura uniforme para uma ampla gama de dispositivos para se conectar e comunicar uns com os outros.”
Retirado e traduzido de Bluetooth SIG –Technology basics [12.1]
     Desenvolvida pela Ericsson em 1994, este padrão de comunicação sem fio de curto alcance é utilizado em inúmeros dispositivos, como telefones celulares, mouses, joysticks, câmeras digitais, impressoras, teclados, cd players, fones de ouvido, entre outros. A figura abaixo de [13] ilustra a aplicabilidade Bluetooth.
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Figura 12 – Diagrama ilustrativo - Bluetooth
 
     Uma maneira convencional de classificação dos dispositivos Bluetooth leva em consideração o alcance das ondas de rádio:
  • Classe 3 – alcance de até 1 metro;
  • Classe 2 – alcance de até 10 metros (amplamente utilizado em dispositivos portáteis);
  • Classe 1 – alcance de até 100 metros (encontrado principalmente em aplicações industriais).
 
     Este padrão de comunicação utiliza uma faixa de rádio não licenciada ISM (industrial, scientific, medical) entre 2,4 GHz e 2,485GHz e opera com uma taxa de transferência de dados de 1Mbps para baixo consumo de energia até 24Mbps para alta velocidade. 

     A estrutura de uma rede baseada na tecnologia Bluetooth Wireless Personal Area Network (BT-WPAN) é formada por piconets, que é um conjunto de no máximo oito dispositivos Bluetooth. Dentro das piconets um dispositivo é designado mestre e os outros escravos, sendo possível a comunicação de diferentes piconets através do dispositivo mestre comum entre ambas, assim temos a formação de uma scatternet. O diagrama abaixo de [14] ilustra o funcionamento citado.
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Figura 13 – Diagrama ilustrativo - Scatternet
     A arquitetura Bluetooth pode ser dividida em dois componentes: um transceiver (hardware) e uma pilha de protocolos (software) [15]. Os subcomponentes são representados com finalidade de ilustração na Figura 3.
Hardware Bluetooth
     Os dispositivos Bluetooth possuem obrigatoriamente seis elementos de hardware, como apresentado na Figura 13, de [16]:
  • Host Controller:  Elemento de hardware responsável pelo código de processamento dos códigos de alto nível;
  • Link Control Processor: Elemento de hardware responsável pelo processamento das camadas inferiores das pilhas de protocolos;
  • Based Band Controller: Elemento lógico com a função de controlar o transceiver de rádio frequência;
  • RF transceiver: Detector de dados e sintetizador de rádio frequência;
  • RF front-end: Elemento responsável pela troca de estados entre receptor e emissor; Antena: Responsável pela transmissão do sinal.
 
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Figura 14 – Pilhas de protocolo e hardware - Bluetooth
Protocolos Bluetooth
     A pilha de protocolos na especificação Bluetooth é divida em três grupos: Aplicações, protocolos Middleware e protocolos de transporte, como mostra a figura 14 de [17].
  • Aplicações: Grupo de aplicações que utilizam o link Bluetooth;
  • Protocolos de Middleware: são uma forma de “tradução” que permite a operacionalidade de novas aplicações ou aplicações já existentes;
  • Protocolos de Transporte: Responsáveis pela gerência de links lógicos e físicos para as camadas superiores e a localização de outros dispositivos com a mesma especificação.
 
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Figura 15 – Pilha de protocolo - Bluetooth
Notícia sobre Bluetooth referente às RSSF
 
     Dezembro/2009 : SIG apresenta a tecnologia wireless Bluetooth de baixo consumo de energia, a próxima geração da tecnologia wireless Bluetooth. 
     Algumas características desta versão:
  • Habilidade para executar durante anos em baterias de célula tipo moeda-padrão;
  • Baixo custo;
  • Interoperabilidade de vários fornecedores;
  • Maior variedade;
  • Longos períodos em standby.
 
Clique aqui  para ter acesso à notícia completa em inglês.
 
     A dificuldade de manutenção e troca de bateria torna a autonomia energética um fator crítico para a escolha da tecnologia de comunicação entre os sensores. Dessa maneira, o principal fator limitador da utilização da tecnologia Bluetooth em redes de sensores sem fio é amenizado nesta nova versão 4.0 e diminuindo assim sua desvantagem em relação ao padrão ZigBee, mais utilizado atualmente na área de RSSF.
2.4 IEEE 802.15.4 & ZigBee
 
     O padrão IEEE 802.15.4 define um padrão para as camadas física (PHY) e de acesso ao meio (MAC) para redes sem fio de alcance relativamente pequeno e que também utilizem uma menor taxa de transmissão de dados. Tudo isso sobre pouca ou nenhuma infraestrutura, tal como pode acontecer em uma aplicação de sensores – monitoramento florestal, por exemplo.
 
     A ZigBee Alliance foi formada para promover o padrão IEEE 802.15.4, efetuando testes sobre este e melhorando as operações entre dispositivos de fabricantes diferentes. Além disso, a especificação ZigBee complementa o padrão adicionando a este requisitos e definições para as camadas mais altas da rede. Suas aplicações encontram-se, tal como para o padrão IEEE 802.15.4, em sistemas que utilizem um menor tráfego de informações e tenham recursos limitados, sejam estes de energia ou mesmo custo para implementação.
     
     As topologias possíveis para uma rede ZigBee são Estrela, Árvore e Malha. À partir das definições de tipos de nós em uma rede, segue-se:
  • Estrela (Star) - Neste tipo de rede, apenas um dispositivo eletrônico é o coordenador, atuando como a base da rede e podendo se comunicar com qualquer outro dispositivo. Em nós que se ligam a um controlador usam-se os RFDs (Reduced Function Device), pois gastam menos bateria, podendo contudo se comunicar só com um FFD (Full Function Device). Este tipo de rede pode não ser o mais adequado, já que o controlador é um ponto único de falha e assim derruba o sistema inteiro em caso de falha nele. Encaixam-se nesta topologia a automação residencial, periféricos de computador pessoal, jogos e aplicações médicas.
 
 
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Figura 16 – Topologia Estrela
  • Árvore (Cluster Tree) - É nada mais que uma expansão do tipo estrela, onde se substitui alguns RFDs por FFDs. Dessa forma, os dispositivos que estão em nós mais afastados podem passar sua informação para FFDs mais próximos, possibilitando uma ampliação da rede. Monitoramento e controle industrial, agrícola e segurança podem utilizar-se deste tipo de rede.

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Figura 17 – Topologia árvore
  • Malha (Mesh) - No tipo malha, o FFD principal é um controlador e está conectado a FFDs configurados como roteadores. Os RFDs se conectam a esses roteadores e a informação será repassada para o controlador principal, com inúmeras possibilidades de caminho entre os dispositivos e o controlador. Assim, aumenta-se a confiabilidade na rede, pois se um caminho estiver congestionado, pode-se usar outro. Possui um alcance ainda mais extenso que o tipo árvore.
 
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Figura 18 – Topologia malha
     A implementação da tecnologia ZigBee se dá em quatro camadas principais: física (PHY) e de controle de acesso ao meio (MAC), contempladas pelo padrão IEEE 802.15.4; de rede (NWK) e de aplicação (AF). A camada de suporte à aplicação (APS) está incluída na AF.
  • Camada Física (PHY) – é a camada mais baixa do protocolo. É responsável por codificar e decodificar os bits da comunicação. Fornece para a camada seguinte (MAC) informações como qualidade e potência do sinal. Também seleciona um canal dentre todos para enviar os dados.
  • Camada de controle de acesso ao meio (MAC) – logo acima da PHY, esta define o controle de acesso ao canal de comunicação, verificando a ausência de tráfego antes de iniciar uma transmissão.
  • Camada de rede (NWK) – é responsável pelo roteamento e segurança das mensagens transmitidas. As configurações específicas da rede também são gravadas nessa camada. 
  • Camada de aplicação (AF) – possui o código de cada aplicação da rede e define como cada nó irá atuar (RFD ou FFD) além de estabelecer funções de segurança e tratamento de eventos.
  • Camada de suporte à aplicação (APS) – faz parte do nível baixo da AF. Realiza as ligações e a descoberta de vizinhança. Além disso, pode modificar a rede para o tipo malha se necessário.
 
 
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Figura 19 – Camadas de implementação de tecnologia ZigBee com IEEE 802.15.4
    
      Definidas as camadas, a transferência de dados se dá, basicamente, de três formas distintas, segundo [19]. Pode-se, (1) enviar uma informação de um dispositivo para um coordenador; (2) enviar do coordenador para o dispositivo ou (3) trocar informações entre dois dispositivos ligados ponto a ponto.
     Para a transmissão, pode ser desejável o uso de uma mensagem de beacon. Esta tem a finalidade de sincronizar a transmissão - ajustar para o mesmo clock, sinalizar quais são o canal e a rede utilizados, bem como informar o nível de sinal da conexão. Beacon é mais utilizado para dispositivos de baixa latência. Em redes onde não há necessidade de suportar tais dispositivos, é usada somente uma mensagem de beacon para a associação da conexão e não a todo envio/recebimento de dados.

     No tipo (1) de transferência, caso seja realizado com beacon, o coordenador o enviará para o dispositivo, atualizando a rede. Este, por sua vez, enviará seus dados para o coordenador, o qual responde com um “ACK” opcional.   Se não houver beacon, o dispositivo simplesmente enviará sua informação, podendo receber o ACK opcional.
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Figura 20 – Ilustração do tipo (1) de transferência de dados
     No tipo (2), o coordenador novamente enviará o beacon, indicando que há uma mensagem a ser enviada. Após isto, o dispositivo responderá, pedindo o envio desta mensagem, que será transmitida pelo coordenador logo após este mesmo ter dado ACK para o pedido. O dispositivo, então, receberá a mensagem e transmitirá um ACK, informando que o recebimento ocorreu bem.
 
     Caso não haja beacon no tipo (2), o coordenador irá esperar um pedido periódico de dados oriundo do dispositivo, realizando o mesmo procedimento descrito acima. Uma mensagem de tamanho nulo – apenas o cabeçalho, sem conteúdo – será enviada caso não exista mensagem para ser transmitida.
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Figura 21 – Ilustração do tipo (2) de transferência de dados
     Para o tipo (3), os dispositivos realizarão a comunicação entre si da mesma forma descrita acima, sendo um emissor e outro receptor, e vice versa.
 
     Por fim, um gráfico [19] de alcance vs taxa de transmissão para alguns dos protocolos explanados até então:
 
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Figura 22 – Gráfico de alcance vs taxa de transmissão
 
     Em redes de sensores sem fio, o gráfico torna evidente o melhor emprego do ZigBee em relação a outros, tais como Bluetooth e Wi-Fi, devido principalmente do fato de que os sensores, apesar de transmitirem dados a uma frequência considerável, não o fazem com grandes volumes de dados. De acordo com a topologia aplicada, não se faz necessário também um alcance muito longo, permitindo que a bateria do dispositivo tenha uma maior vida útil.