3. Desafios
 
     Os avanços tecnológicos das indústrias de computação e eletrônica nos permitem, hoje, aliar unidades de processamento de dados, armazenamento, sensoriamento e comunicação em uma só estrutura.  Isso nos possibilita desenvolver arquiteturas eletrônicas especiais para o uso em RSSF.
     Os grandes desafios dos pesquisadores do ramo são, então, aliar a portabilidade e mobilidade da arquitetura com baixo consumo energético e baixa latência e com a máxima confiabilidade possível.

3.1 Controle de Energia
 
     A Rede de Sensores baseia seu funcionamento em motes acoplados a sensores de características específicas. Tais motes podem ser descritos como microcomputadores de baixa capacidade computacional com pouca memória e que devem consumir pouca energia. Cada um desse conjunto mote/sensor é um nó da rede.
     Projetar uma RSSF representa um desafio ao engenheiro, ao passo que ele deverá ter a capacidade de aliar o desempenho do nó com o tempo de vida útil da bateria.  É fundamental que haja desempenho, mas o maior problema encontra-se na estabilidade da bateria. Isso porque substituir ou recarregar a energia do nó pode ser muito difícil devido à logística do mapa de sensores. E mais, a interferência causada pelo homem (para manejar com a bateria) no ambiente sensoriado pode, em certos casos, influenciar negativamente nas variáveis monitoradas.
     Isso faz com que colocar a administração da energia em primeiro plano no projeto de uma RSSF seja fundamental. Tudo o que vier a ser criado para ser usado na rede (como a arquitetura, o protocolo, etc.) terá uma função no controle da bateria e em evitar desperdícios energéticos.
     É importante ressaltar que tal rede requer circuitos específicos, projetados para aplicação de consumo baixo energético. Um exemplo claro de má adaptação de dispositivos já disponíveis no mercado é o uso de transceptores comerciais de rádio. Estes se caracterizam pela elevada sobrecarga de energia empregada para ligá-los e desligá-los.
     A dificuldade de planejar com certa precisão a energia gasta por um nó está na aleatoriedade da complexidade do ambiente a ser monitorado. Em outras palavras, fatos inesperados e o dinamismo das condições do ambiente dificultam que o engenheiro possa prever a vida útil da bateria.
     Em "Great Duck Island" [8], uma ilha americana no Atlântico Norte, pesquisadores da Universidade do Atlântico em colaboração com a Universidade da Califórnia, Berkeley e a Intel Corp desenvolveram uma rede composta por 32 motes. Seriam monitorados, a temperatura, a pressão atmosférica, a umidade e o índice de luminosidade, dentre outros fatores. Os engenheiros, porém, tiveram “queda” de diversos nós por não terem previsto a energia gasta por um mote estar em modo de comunicação sem que outro tivesse pretensão de se comunicar.
     Existem dois tipos básicos de dissipação de potência em nós: dissipação estática e dinâmica. Mesmo que um nó não esteja transmitindo ou recebendo dados, pode haver vazamento de corrente dos circuitos digitais da fonte para o terra. Este tipo de dissipação é estática. A dinâmica caracteriza-se pela energia necessária para energizar os componentes de circuito integrado da voltagem zero para a voltagem de operação.
     De forma abrangente, dividimos o consumo de energia de cada nó da rede em três categorias: sensoriamento, comunicação e processamento de dados. O sensor varia seu consumo de energia de acordo com a complexidade de detecção de um evento. Interferências e a dinâmica do ambiente sensoriado aumentam a complexidade de obtenção de dados, o que implica em maior consumo energético. A qualidade de obtenção de dados por parte do sensor também pode variar com o nível de energia disponível para colocá-lo em operação.
     Em geral, a energia utilizada em processamento de dados é menor que a utilizada para a comunicação. Fato que fica ainda mais evidente quando levamos em consideração os ruídos do meio de comunicação. Por exemplo, de [25], interferências do tipo Rayleigh aliadas a uma perda de potência proporcional à quártica da distância geram um consumo equivalente entre processar 3 milhões de instruções e transmitir 1kB a 100m.
     Como já foi dito, cada elemento que compõem a rede tem uma função no controle energético. Porém, existe a possibilidade de um setor da estrutura ter a maior responsabilidade em reduzir o gasto de energia. Existem, hoje, pesquisas sobre soluções para esse desafio com foco em protocolo, hardware do nó, técnicas de roteamento, dentre outros. Deter-nos-emos em dois tipos de possíveis soluções: o primeiro com foco em uma arquitetura a ser adicionada ao nó e o segundo discute a possibilidade de recarga com energia solar.

Solução Via Arquitetura
 
     Uma arquitetura de uma rede sem fio com responsabilidade energética baseia seu funcionamento no monitoramento contínuo da dissipação de energia da rede.  A partir dos dados obtidos, são realizadas as ações necessárias para que o consumo seja o menor possível.
     O diagrama abaixo, baseado em [26], ilustra um possível projeto para tal arquitetura.
     
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Figura 23 –Arquitetura de administração de energia
 
     Cada elemento desse diagrama tem uma função importante para o funcionamento desse conceito de arquitetura. Porém, o Monitor de Energia tem um papel ainda mais crucial para que o projeto seja eficiente.
     Ele baseia seu funcionamento em um Modelo de Energia e em um Mapa de Energia. O Modelo de Energia, segundo [27], pode ser visto como um distribuidor de energia inteligente.  Ele depende de uma bateria e de elementos consumidores. Como já foi mencionado, o nó sensor divide seu consumo de energia entre unidades de processamento, comunicação e sensoriamento. Cada uma dessas unidades informa ao provedor o quanto está consumindo, este, por sua vez, informa ao consumidor a quantidade de energia ainda disponível.  A partir dos dados obtidos pelo Modelo de Energia em cada nó, é possível criar um Mapa de Energia.
     O Mapa de Energia é uma representação ilustrativa, em tons de cinza, do consumo de toda a rede. Áreas com maior consumo, portanto menor quantidade de energia disponível, terão uma tonalidade mais escura, enquanto  tons mais claros revelam áreas com menor consumo, por isso maior quantidade de energia disponível. O desenho abaixo, de [27], ilustra um Mapa de Energia de uma rede.
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Figura 24 – Mapa de Energia de uma Rede
     Esse Mapa pode ser muito útil para que atitudes de controle sejam tomadas para aumentar o tempo de vida útil da rede. Com posse desses dados, é possível que se previna a perda de nós em iminência de falha por falta de energia. Adicionar novos nós também é um ato facilitado, já que se procura por regiões com quantidade suficiente de energia. O Mapa também favorece a localização do nó soverdouro. Isso por que a tendência é que áreas mais próximas a esse nó dissipem mais energia em comunicação para que os pacotes cheguem a ele. Para aumentar a eficácia energética, move-se o sorvedouro para a área com maior quantidade de energia disponível.
     Existem duas formas principais para a obtenção dos dados individuais necessários de maneira eficaz e que não aumente consumo: Mapa de Energia baseado em Predição e o baseado em Agregação.
  • Mapa de Energia baseado em Predição:
     Este método, como explica [28], é inteiramente calcado na habilidade de predição do Modelo de Energia individual de cada nó sensor. Os dados obtidos pelo modelo são enviados ao nó sorvedouro, que utiliza tais informações para atualizar a quantidade de energia disponível em cada nó. Enquanto o modelo descrever satisfatoriamente o consumo de energia, não é necessário enviar mais dados. Essa predição pode ser extremamente útil para que se evitem desperdícios em comunicação para obtenção de dados de cada nó.
     Os métodos probabilísticos utilizados para viabilizar a predição, como propõem [28], são dois: um baseado nas Cadeias de Markov e o outro é denominado ARIMA (Autoregressive Integrated Moving Average), discutido mais profundamente em [29], no qual o nível de energia é representado por uma série do tempo.
 
  • Mapa de Energia baseado em Agregação:
     Este modelo, abordado em [30], pode ser descrito em três etapas: Na primeira, cada nó sensor mede sua energia local residual continuamente. Apenas quando houver mudanças consideráveis nos níveis de energia, o nó enviará dados ao sorvedouro; na segunda, disseminam-se os dados de energia pela rede.  O nó sorvedouro passa a requerer as informações individuais através de uma mensagem enviada aos nós. Uma técnica de propagação da mensagem possível é a de flooding, que pode ser descrita, como em [31], da seguinte forma: cada nó repassa a informação a todos o nós aos que está ligado, menos para o nó do qual recebeu o pacote. Isso faz com que se crie uma árvore virtual cuja raiz é o nó sorvedouro. Após receber a informação de requerimento de dados de energia, cada nó envia seus dados a quem lhe enviou a informação. Dessa forma, atualizam-se continuamente as informações sobre os níveis de energia da rede; na terceira etapa, destaca-se a agregação de dados em cada nó que recebe informações. Os dados são agregados segundo a topologia e os níveis de energia. Visa-se reduzir os custos da comunicação, que como já foi dito é o maior responsável por um alto consumo de energia.
     Parte das operações do Monitor de Energia são respostas ao dinamismo que o ambiente sensoriado se encontra. Isso faz com que haja uma conexão entre a aplicação e o Monitor. Essa conexão deve ser realizada em uma linguagem apropriada. Portanto, torna-se fundamental a existência de um protocolo de interface com a aplicação. Um algoritmo possível para ser usado nessa unidade é o API (Application Programming Interface).
     Os dados obtidos no Monitor de Energia são extremamente importantes para que ações de controle dos níveis de energia sejam tomadas. Essas ações podem partir de um algoritmo automatizado na Unidade de Administração de Energia ou de um usuário com posse de tais dados.
     A possibilidade de haver interferência humana em alguns processos da rede pode ser extremamente útil para reduzir o consumo. Por exemplo, ao receber os dados do Monitor de Energia e perceber que alguns nós estão em iminência de falhar por falta de energia, ele pode alterar as taxas de amostragem de dados ou fazer com que o nó apenas armazene o que for sensoriado e não se comunique, e ao término do período de sensoriamento os dados seriam obtidos. Esses tipos de abordagem requerem conhecimento científico das possibilidades de métodos de sensoriamento. Em certos casos, por exemplo, diminuir a taxa de amostragem pode não ser compatível com as propostas do projeto, sendo mais aconselhável adotar outro método. Esse tipo de procedimento é difícil de ser implementado por meio de inteligência artificial, por isso pode ser importante a interferência do usuário.
     O programador se comunica com a arquitetura por meio da Unidade de Protocolo de Interface com o Usuário (que será abreviada por UPIU). Geralmente, o ele descreve aquilo que tem como objetivo por meio de linguagens de programação complexas. A UPIU deve “traduzir” aquilo que é descrito para uma linguagem de baixo índice de processamento. Isso por que a capacidade de processar dados de um nó é baixa e também por que é necessário que o consumo de energia seja o menor possível.
     Os comandos do usuário partem da UPIU para a Unidade de Administração de Energia (será abreviada por UAE). Ela é a responsável por controlar todo o consumo do nó e, por consequência, da rede.
     A UAE deve ter a capacidade de tratar exceções automaticamente e regular o acesso de componentes à fonte de energia. É função da UAE viabilizar a adaptação da rede ao dinamismo do ambiente. Novas funcionalidades não projetadas podem fazer com que o nó reduza seu tempo de vida útil. Por exemplo, com a destruição (por fatores externos) de alguns nós, outros podem ser sobrecarregados, tanto em comunicação como em sensoriamento de dados, e assim esgotarem seu estoque energético. O UAE também deve ser capaz de evitar que o nó permaneça em estado de comunicação sem que haja pacotes a serem enviados.
     Para que UAE seja eficiente, além de receber os comandos do usuário, ela deve obter informações sobre as variáveis da aplicação por meio da Unidade de Protocolo com a Aplicação e, também, dados essenciais para o controle automático, por parte do Monitor de Energia.
     A Arquitetura de Administração de Energia descrita não é a estrutura completa do nó sensor. Ela apenas descreve os circuitos e elementos fundamentais na construção de um nó para o funcionamento adequado da rede. Essa arquitetura é adicionada a outras, como a de comunicação (como o ZigBee) e a de sensoriamento ( que varia com a aplicação).

Solução com Recarga Natural: Energia Solar
   
     Recarregar as baterias dos nós da rede é uma pratica inviável. Porém, devem existir soluções para viabilizar um tempo de vida útil satisfatório. Para isso, existem vertentes científicas que estudam a possibilidade do nó sensor ter a capacidade de se recarregar via energia fotovoltaica.  
     O sol fornece anualmente cerca de 1,5 x 1018 kWh [32] e isso é dez mil vezes mais que todo o consumo enérgico do homem no mesmo período. Muitas práticas agrícolas, industriais e até foguetes estão sendo implementadas via matriz energética renovável – a energia solar. A figura abaixo, de [33], revela o potencial energético de cada região terrestre.
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Figura 25-Radiação Solar na Terra: Potencial de Energia Renovável
     A energia solar é convertida em energia utilizável por meio de dois processos: o termoquímico e o fotovoltaico. A discussão que se segue tem a transformação de energia solar fotovoltaica em eletricidade para o uso nos nós sensores como base.
     Os componentes básicos para que o funcionamento de uma unidade de conversão fotovoltaica-eletricidade são os fotodiodos. Eles são junções p-n polarizadas com tensão reversa.  O processo de fabricação dos fotodiodos muito se assemelha ao dos diodos comuns e tem o silício como seu principal material semicondutor.
     Quando há radiação solar na superfície do fotodiodo são criados os ‘buracos’ que se deslocam devido à barreira potencial da junção. Isso faz com que haja uma variação na voltagem dos terminais do dispositivo. Esse fenômeno, o Efeito Fotoelétrico, foi verificado primeiramente por Edmond Becquerel, em 1839.
     O fotodiodo também é conhecido como célula. Para que ele seja eficiente, é importante que a junção fique localizada o mais próximo possível da superfície para aumentar a largura da região de depleção. Essas células unitárias produzem, como cita [34], menos que 3W a aproximadamente 0,5V. Abaixo, a figura, de [32], mostra o corte transversal de uma célula em pleno funcionamento.
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Figura 26-Célula Fotovoltaica e o Efeito Fotovoltaico.
     A dificuldade em adaptar um nó sensor a captar radiação solar e transformá-la em eletricidade está na superfície exposta do sensor. Esta geralmente é muito pequena, não permitindo conexão de células em série, e pode não estar em lugar apropriado para o funcionamento das células.
     Por outro lado, pequenas taxas de potência transferida são envolvidas. Nas aplicações usuais de energia fotovoltaica, as taxas se aproximam dos kilowatts, para um RSSF essa taxa cairia drasticamente para algo perto de miliwatts.
     O nó sensor com células fotoelétricas deve também possuir um armazenador de energia, que poderia ser uma bateria recarregável, e reguladores de tensão. A necessidade de captação de energia solar varia com a taxa de consumo do nó e com a quantidade de energia disponível na bateria. Um possível esquema para representar a arquitetura de conversão é apresentado abaixo (baseado na figura de [35]).
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Figura 27-Estrutura de Conversão de Energia Solar em Elétrica de um Nó Sensor
     
     Seriam enormes as vantagens de adicionar meios de renovar a energia de um nó sensor de maneira natural. A primeira é que torna viável recarregar a bateria e assim estender a vida útil da aplicação sem que haja interferência humana no campo sensoriado.  Também seria possível garantir a qualidade dos dados obtidos pelos sensores, já que esta pode variar de acordo com a quantidade de energia disponível. Outro fato importante e vantajoso para o projeto com células fotovoltaicas é a queda que os preços desses componentes vêm sofrendo.
     Para exemplificar, rusticamente, a quantidade de energia que estaria disponível para um nó sensor, segue a seguinte equação:
 
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          Onde:           Eele = Energia Elétrica Resultante (joules)
                              PR = Potência da Radiação Solar (watts por metro quadrado)
                              A =Área Efetiva (metros quadrados)
                              t = Tempo de Exposição (segundos)
                              Eefic = Eficiência de Conversão da Célula Fotovoltaica (porcentagem)
 
     Escolhemos, com base na figura 3, uma região com radiação média de 250W/m2. Para efeito de cálculo, a área efetiva do sensor será 0,04m2 e ele estará exposto 12h a radiação solar. Esse nó contém células fotovoltaicas de silício, o que significa que elas têm, em média, 15% de eficiência. Logo, a energia elétrica resultante será de:
 
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     O número encontrado é bem expressivo. Ele representa a energia solar convertida, por células de silício, em elétrica em uma região do globo com radiação média com tempo de 12h de exposição à radiação. O nó sensor escolhido tem o tamanho usual de 20 cm x 20 cm.
     Porém, os desafios de se utilizar de energia solar como forma de aumentar a vida útil do sensor são grandes. A aplicação pode não ser em um ambiente externo, o que impossibilitaria a utilização de células fotovoltaicas. E mesmo que seja em local com índice de radiação solar, pode acontecer de o nó sensor ter sua superfície encoberta por diversas razões, como por folhas que caem sobre o sensor.  Embora esse seja um problema simples, ele impossibilita que o sensor se recarregue via energia solar e se ele não tiver outra forma de controle de energia há possibilidade real que ele venha a falhar.
     Outro problema são os componentes necessários para a utilização em nó sensores. Como já foi dito, a estrutura de um nó requer dispositivos específicos para tal aplicação. O regulador, por exemplo, deve operar com o mínimo desperdício possível e as células devem ter a máxima eficiência, já que não é possível construir diversas células em série para aumentar a taxa de conversão.
     Isso significa que, apesar de se mostrar uma solução com diversas vantagens para o uso em RSSF, a conversão de Energia Solar ainda não é amplamente empregada devido à difícil implantação da estrutura de conversão em um nó de maneira eficiente.

3.2 Latência e Confiabilidade da Rede

     Uma Rede de Sensores sem Fio deve ser confiável e trabalhar com restrições de latência e energia. A latência e a confiabilidade envolvem, principalmente, técnicas de comunicação, como protocolos. A latência de uma RSSF é o tempo de atraso entre o momento em que determinada ação é sensoriada até o momento em que essa informação é armazenada no destino - como um IP da internet. Já a confiabilidade do sistema trata da quantidade de pacotes transmitidos e recebidos em relação à quantidade de pacotes apenas transmitidos. Obviamente, quanto menor a diferença entre o número de pacotes transmitidos e o número de recebidos, maior será a confiabilidade do sistema.
     Em práticas de sensoriamento com fins acadêmicos, para que o método científico seja assegurado, é necessário que haja um limite mínimo de pacotes a serem recebidos. Se os dados forem coletados, porém perdidos em falhas de comunicação, recursos de tempo e dinheiro envolvidos e o estudo do caso terão sido em vão. Em indústrias, máquinas podem operar fora da margem de segurança se variáveis sensoriadas para controle não chegarem ao destino projetado. Em praticamente todas as aplicações de RSSF é necessário que haja uma confiabilidade mínima da rede.
     Existe uma dualidade no sistema de uma RSSF entre a latência e a energia consumida. O tempo de transmissão de dados varia com a potência da comunicação. Pode-se atingir baixo índice de consumo energético ao se reduzir a potência da transmissão e aumentar o seu tempo. Isso claramente afeta a latência do sistema, aumentando-a. Para tanto, técnicas de modulação são amplamente utilizadas.
     Porém, como discute [36], a energia não decresce monotonicamente ao passo que se aumenta o tempo de transmissão. Existe um valor limite a partir do qual a energia tende a crescer. Isso faz com o modelo de energia seja não-monotônico. Esse fato é mais evidente para transmissões de curto alcance.
     Como demonstrações, vamos considerar os seguintes cálculos baseados em QAM (Quadrature Amplitude Modulation), melhor abordados em [37].
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          Onde:           τ = Tempo de transmissão (segundos)
                              ϒ= Taxa de Modulação do Emissor (bits por símbolos)
                              n = Número de bits enviados (bits)
                              R = Taxa fixa de transmissão de símbolos. (símbolos por segundos)
 
     Para facilitar os cálculos, a energia de transmissão será modelada como a soma de energia de saída com a energia da eletrônica. A relação entre a latência, τ, e a energia de transmissão fica evidente na seguinte equação, [37]:
 
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          Onde:           Etrans = Energia de transmissão     
                              C = Parâmetro de qualidade da transmissão e de potência do ruído (Joules por símbolos)
                              F = Parâmetro referente ao dispositivo eletrônico (Joules por símbolos)
 
Com isso, temos:
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          Onde:           Ps= Potência de Saída (watts)
                              Pe = Potência de eletrônica (watts)
 
     Usando parâmetros de QAM, a potência de saída é  graphic. Usando dispositivos de rádio, graphic e graphic. Com essas especificações, teremos graphic graphic.

     O gráfico abaixo revela como a energia de transmissão pode aumentar após um valor limite. Foi utilizado um raio de transmissão igual a 7 metros para um modelo em que a potência decresce proporcionalmente com o quadrado do raio de transmissão. É fácil verificar, pelo gráfico, que o valor limite é algo em torno de 240 ns.
 
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Figura 28 – Gráfico da Variação da Energia de Transmissão com a Latência do Sistema
 
     Existem diversas pesquisas para aumentar a confiabilidade de uma RSSF, minimizando a latência e o consumo de energia, dentro dos limites possíveis.
     O método [38] que se segue foi desenvolvido pela Universidade de Berkeley e é, hoje, vendido pela empresa Dust Network.

Aumento da Confiabilidade: Abordagem Via Protocolo
     
     Em Julho de 2002 foi fundada a empresa Dust Network com objetivo de criar alternativa para redes com máxima confiabilidade possível e com o mínimo consumo de energia. Abordaremos, especificamente, o protocolo TSMP (Time Synchronized Mesh Protocol) que se destina a RSSFs.
     O protocolo caracteriza-se por ser sincronizado no tempo acurado em aproximadamente 1 ms. Para que o consumo de energia seja o menor possível e a rede seja eficiente, o nó A só será “despertado” se o nó B quiser transmitir algo a ele. Por ser uma rede sincronizada no tempo, existe um momento esperado para que B comece a transmitir para A, após este ter sido “despertado”.
 
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Figura 29 – Diagrama no tempo de comunicação de B com A – A espera que B transmita em TE
     
     No diagrama acima, TE caracteriza o momento em que A espera que B envie o pacote. O nó A deve, então, ligar a comunicação um pouco antes de TE para garantir, que mesmo no pior caso de sincronização, ele esteja “acordado” quando B transmitir. E mesmo que ainda não tenha recebido o pacote em TE, ele deve continuar ligado por mais um breve tempo. Isso porque B pode estar atrasado no envio. Se após esse intervalo, A ainda não tiver recebido nada de B, ele deve se desligar. O nó B pode não ter transmitido corretamente ou interferências terem corrompido a mensagem. No diagrama abaixo, o bloco verde representa o intervalo de tempo em que A estiver ligado e pronto para receber informações.
 
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Figura 30 – Diagrama no tempo de comunicação de B com A – A “acorda” antes de TE e continua ligado depois de TE
 
     Vamos considerar que B tenha algo para transmitir, porém ele está atrasado em relação e TE. Como B está transmitindo, A deve estender o tempo em que fica ligado até o término da transmissão. No diagrama abaixo, o bloco azul representa o intervalo de tempo em que estiver transmitindo.
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Figura 31 – Diagrama no tempo da comunicação de B com A – B começa a transmitir atrasado e A estende o período ligado
 
     O nó A recebe o pacote e envia uma mensagem de confirmação de recebimento, o ACK. Junto com o ACK, ele envia parâmetros que auxiliam na permanência do sincronismo. Ele envia à B a informação de que ele estava atrasado e quão errado ele estava.  O nó B, então, recebe o pacote. O diagrama abaixo mostra o nó A enviando o pacote e B recebendo.
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Figura 32 – Diagrama no tempo da comunicação de B com A – A envia ACK e B recebe
 
     Essa técnica faz com que um nó só esteja com a comunicação ligada quando outro nó tiver a intenção de transmitir algo a ele. Isso reduz o consumo de energia de uma maneira simples, já que é fácil desligar a comunicação de um nó.

     Para que um nó transmita corretamente um pacote, é necessário que ele dê início a comunicação “acordando” o outro nó, transmita o pacote, altere a comunicação para modo de recebimento e, por fim, receba a confirmação do outro nó.

     O diagrama abaixo, extraído de [38], mostra a energia gasta para que se envie um pacote. Na abscissa, temos o tempo e na ordenada temos a corrente que circula no nó.
 
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Figura 33 – Gráfico da corrente versus o tempo durante a transmissão de um pacote
     
     Agora, o mesmo gráfico [38], só que dividido entre as ações durante a transmissão.
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Figura 34 – Gráfico da corrente versus o tempo – O pico de corrente é atingido durante a transmissão
    A área deste gráfico fornece a carga utilizada durante a transmissão, já que:
 
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     Temos que:
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     Quando um nó é “acordado”, porém nenhum outro nó envia um pacote a ele, as ações são divididas em ligar a comunicação e enviar, a quem o “acordou”, a mensagem de que irá desligar o rádio. Obviamente, como confirmado na figura abaixo, o custo de energia desse procedimento é muito menor do que se ele mantivesse a comunicação ligada.
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Figura 35 –Transmissão ociosa
 
     Agora vamos discutir mais profundamente por que este protocolo ajuda a aumentar a confiabilidade da rede
 
     Com a garantia de que não irá funcionar ociosamente, o nó A pode “acordar” mais vezes do que o nó B transmitir. Como eles são sincronizados no tempo, cada vez que A ligar sua comunicação ele pode se autoconfigurar em uma frequência diferente, pois talvez a comunicação esteja com interferências em determinado canal.
 
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Figura 36 – Diagrama da banda de frequência – O nó A “acorda” em cada momento em um canal diferente
     Após ter testado alguns canais, o nó A “acorda” em outro e o nó B passa a transmitir por aquela frequência. Após receber o pacote, A envia a confirmação à B.
 
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Figura 37 – Diagrama da banda de frequência – B transmite pelo canal 4 e recebe o ACK de A
     
     Certamente existe um custo em consumo de energia para que um nó “acorde” repetidamente mesmo que não haja comunicação. Porém é um pequeno aumento no consumo de energia em comparação com o ganho em confiabilidade para o sistema.