Motivação

       A Internet nasceu com objetivo definido, a comunicação de mensagens entre bases do exército americano. A partir de então, ganhou escala inigualável e aplicações que não poderiam ser imaginadas na época de sua concepção. O que impressiona, e ao mesmo tempo preocupa, é o fato de que a rede da Internet se estabeleceu como uma colcha de retalhos, sobre a mesma dinâmica e arquitetura planejada para a rede de modestos objetivos de outrora.
       A difusão das fibras-óticas e própria evolução da Internet apontaram o surgimento de diversas novas aplicações e mercados consumidores, não mais tolerantes a atrasos e outros efeitos vistos na rede IP. Essas mudanças têm guiado a demanda por banda crescente e garantida no backbone da rede. Além disso, a Internet se apresenta como ambiente convergente para comunicação de todos os tipos de mídia, exigindo ainda mais de uma arquitetura que não previa esse tipo de utilização.
       O MPLS (Multiprotocol Label Switching) surgiu como uma solução versátil para tentar equalizar certos problemas provenientes da transformação dessa rede inicialmente fechada para a Internet tal qual conhecemos, hoje ubíqua e incrivelmente poderosa. As principais questões apontadas são velocidade, escalabilidade, gerência da qualidade de serviço (QoS) e engenharia de tráfego.
       Generalizando, qualidade de serviço poderia ser entendida como um conjunto de pré-requisitos necessários para o funcionamento de um sistema. Nos estudos de redes de computadores, o termo refere- se à garantia da banda contratada para comunicação de dados, bem como a garantia sobre a conexão, e envolve diversas técnicas e abordagens para seu real estabelecimento.
       Como engenharia de tráfego em geral compreende-se um conjunto de estudos e modelos estatísticos para medir, simular, prever, planejar e otimizar o tráfego nas redes de telecomunicações. Em redes de computadores, são as técnicas utilizadas para selecionar os melhores caminhos para os pacotes de dados, de forma que seja balanceado o tráfego entre os vários links, roteadores e switches da rede.
       Para exemplificar os problemas de velocidade e escalabilidade, podemos mencionar o algoritmo utilizado nos roteadores IP, que é repetitivo (cada roteador realiza a mesma tarefa, para todos os pacotes que nele chegam), e dispendioso (por analisar mais informação do que seria realmente necessário). Esses dois fatos reunidos apontam para uma infra- estrutura não tão escalável nem rápida quanto se considera – e, o mais importante: quanto poderia ser com a rede da nova geração.
       A rede ATM, surgida na década de 80, em verdade, propunha ser a rede do futuro, por apresentar altas velocidades de transmissão. Essa tecnologia era baseada na comutação de células pequenas, e de tamanho fixo.  O ATM carregava propriedades tanto de comutação de circuitos virtuais quanto de comutação de pacotes, indicando flexibilidade e transporte de mídia em tempo real. Contudo, tinha um defeito primordial: não era integrável com o IP, protocolo mais usado na época – e até hoje. Esse fato guiou a decadência das redes baseadas nessa tecnologia.
       O MPLS, concebido pela IETF (Internet Engineering Task Force), como será explicitado mais à frente, se torna o grande candidato para arquitetar a Internet do futuro pois é compatível com diversos tipos de rede, como IP e ATM, e dispõe-se a resolver todas as questões citadas acima. Nesse sentido, o termo Multiprotocol é usado exatamente para indicar que as técnicas são aplicáveis a qualquer rede de protocolos em camadas.