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2.4 – Firewire x USB


Falando-se sobre o Firewire, torna-se impossível não abordar talvez o tema mais importante pertinente à sua viabilidade de implementação, a sua disputa com as interfaces USB.

Inicialmente, as duas tecnologias não eram concorrentes. A proposta inicial do USB era de substituir as antigas e pouco eficientes interfaces de entrada e saída existentes, fornecendo uma única interface que pudesse ser usada para todo tipo de comunicação entre computadores e seus periféricos. Nisto, foi absolutamente bem sucedido. Após alguns problemas iniciais de implementação e compatibilidade, o USB se adaptou perfeitamente ao que se propunha e se tornou uma interface bastante difundida.

O Firewire por sua vez tinha uma proposta de maiores requisitos, visando oferecer um barramento de alta velocidade para dispositivos multimídia e de armazenamento de massa externos, cujos requisitos de banda são bem maiores que os dos periféricos tradicionais, como mouse, teclado por exemplo. O Firewire também, após alguns problemas iniciais de implementação, serviu muito bem ao que pretedia fazer.

Em suas versões originais, o IEEE 1394 e o USB tinha nichos diferentes de aplicação. O USB era uma interface barata e de baixa velocidade (comparada ao Firewire) e tinha como fim servir aos dispositivos de baixas e médias taxas de transferência, visto que o USB 1.1 chegava até 12 Mbps, suficiente para periféricos em geral, mas muito pouco para equipamentos multimídia, com vídeo e áudio de alta qualidade e altos requisitos de banda.

O Firewire foi desenvolvido especificamente para este tipo de aplicação. Com uma banda de 400 Mbps em sua especificação original (em 1995), já se mostrava capaz de atender a todo tipo de dispositivo multimídia que se mostrasse disponível. Com isso, a disparidade entre as 2 tecnologias era muito grande, de forma que ambas podiam perfeitamente coexistir sem interferir uma na outra.

Entretanto, no começo da história do Firewire, a Apple quis cobrar royalties muito altos pelo uso de seu padrão. Isto foi o que levou a Intel (que fazia parte de um grupo de empresas que estavam trabalhando com o Firewire) a abandonar o desenvolvimento da tecnologia e partir para a criação do USB 2.0

Com a chegada do USB 2.0, o domínio do Firewire nos dispositivos de altas taxas de transferência passou a ser ameaçado. O USB já se mostrava disponível em grande parte dos computadores, devido ao seu uso em periféricos, e agora apresentava desempenho capaz de satisfazer também os requisitos apresentados pelos dispositivos IEEE 1394. Na época em que foi lançado, em abril de 2000, o USB 2.0 era inclusive mais rápido que as interfaces Firewire disponíveis (480 contra 400 Mbps), tendo ainda um custo menor do que o desta última.

Com o desafio lançado pelo novo padrão USB, o grupo de desenvolvimento IEEE 1394 concluiu a sua mais recente especificação, o IEEE 1394b, aprovado pelo IEEE no começo de 2002. Com esta nova especificação, o Firewire volta a ser, tecnologicamente, bastante superior ao USB. Através das características abordadas anteriormente, o Firewire consegue agora alcançar taxas de até 3.2 Gbps, enquanto o USB 2.0 chega apenas a 480 Mbps. Além disso, como desde o começo de seu desenvolvimento o IEEE 1394 visava aplicações multimídia, seu desempenho neste nicho é bastante otimizado e já possui um histórico de utilização e sucesso de implementação que o USB ainda teria que conquistar.

Entretanto, muitas vezes a análise apenas tecnológica nos leva a conclusões falhas, pois em diversos casos o melhor tecnologicamente não vence comercialmente. Sendo assim, devemos levantar algumas questões que podem nos levar a um julgamento mais correto do que pode vir a ocorrer futuramente com as duas tecnologias.

Um ponto interessante que se pode abordar é que, em muitos casos, a diferença de desempenho entre o USB 2.0 e o 1394b não fará nenhuma diferença prática, pois a aplicação não apresentará restrições que não possam ser atendidas pelo primeiro. E como as duas poderiam servir, o USB teria a vantagem de ser mais barato.

Outro ponto pertinente é quanto à versatilidades das duas tecnologias. O Firewire permite que quaisquer 2 dispositivos que o suportem possam se comunicar, desde que um deles tenha implementadas as funções de controle da comunicação. No USB sempre há a necessidade de um computador controlando todas as comunicações. Isto não é muito conveniente com o crescimento do segmento de dispositivos portáteis, pois há a perda de portabilidade para o uso de todas as funcionalidades dos equipamentos. Além disso, nos cabos Firewire de 6 fios, com conectores de mesmo tamanho que o USB, é fornecida alimentação que pode chegar a até 1.5A, enquanto este último não consegue passar mais que 500 mA em seus cabos. Desta forma, alguns dispositivos podem ser feitos sem baterias se utilizarem o Firewire em vez do USB, o que sem dúvida reduziria bastante o custo de fabricação. Com estas características, o Firewire permitiria por exemplo que se ligasse diretamente uma filmadora digital a um disco de armazenamento externo de alta capacidade, sem a necessidade de um computador para fazer o controle. Diversas outras aplicações podem vir a surgir, especialmente com a TV Digital, que vem sendo cuidadosamente abordada pelas empresas envolvidas no Firewire. Neste aspecto da versatilidade, sem dúvida o 1394 se mostra bem mais interessante.

Outro fator que pode pesar na disputa é que o Firewire já vem sendo usado em aplicações profissionais multimídia há bastante tempo, pois desde seu início sua proposta era esta. Como grande parte dos dispositivos existentes são Firewire e a tecnologia vem evoluindo ao longo do tempo, seria muito difícil que o USB conseguisse tomar seu lugar tendo partido tão mais tarde. Considerando estas questões de compatibilidade e evolução, ponto para o Firewire.

É muito difícil afirmar quem sairá vencedor da disputa entre o Firewire e o USB. Pode ser inclusive que nenhum dos dois saia vencedor e que vejamos a coexistência dos dois. Porque, se por um lado parece difícil que o USB conquiste o espaço já ocupado pelo Firewire, também é muito difícil, nas condições atuais, que o Firewire acabe com o uso do USB, já que ele já tão difundido em dispositivos de baixas e médias taxas. Para que houvesse apenas uma destas tecnologias em uso, creio que teria que acontecer uma entre duas hipóteses. A primeira seria que o USB conseguisse se desenvolver cada vez mais e oferecesse praticamente tudo que é oferecido pelo Firewire a um custo mais baixo. A segunda seria a dual da primeira. Que o Firewire fosse difundido o suficiente para que a diferença de custo entre sua interface e o USB fosse pequena o bastante para fazer com que valesse a pena aceitar o custo um pouco mais alto do Firewire pela sua qualidade técnica superior. Se não ocorrer nenhuma destas duas hipóteses, creio que continuaremos vendo a coexistência dos dois.


2.5 – Cenário Atual do Mercado


Atualmente no mercado ainda não há uma disputa bastante efetiva entre o Firewire e o USB. Devido ao fato de suas últimas especificações serem relativamente recentes, ainda não houve na prática a sobreposição dos nichos das duas tecnologias.

Por enquanto, o USB continua atendendo basicamente a periféricos e outros dispositivos que requerem pouca banda, como câmeras digitais, cartões de memória e palms, por exemplo. Já o Firewire, devido às suas características originais, já vem sendo usado profissionalmente em aplicações multimídia há um bom tempo, portanto ainda domina completamente esta área, que inclui gravações de áudio e vídeo digitais de qualidade. Já existem há algum tempo também discos rígidos externos de alta capacidade que possuem interfaces Firewire.

De certa forma, podemos dizer que ainda não ocorreu de forma muito significativa a sobreposição dos mercados do Firewire e do USB. Entretanto, com estas novas especificações, o objetivo dos fabricantes das duas tecnologias é cada vez mais de se expandir o uso de sua tecnologia na gama mais ampla possível de aplicações. Com isso, a tendência é vermos cada vez mais interfaces Firewire e USB em dispositivos não suportados anteriormente.

O Firewire já começa a aparecer disponível em uma grande variedade de aplicações, com dispositivos como: set-top boxes de HDTV, redes caseiras, instrumentação biomédica, sistemas de ponto de venda para leitura de cartão e reconhecimento de imagem, radares, vídeo conferências e até aparelhagem de som automotivo. A estas anteriores podemos acrescentar as aplicações clássicas do Firewire, como filmadoras digitais e outros dispositivos multimídia de alta qualidade.

A listagem de aplicações do Firewire atualmente é impressionante, mas a do USB também se assemelha bastante, incluindo muitas áreas comuns. Já existem dispositivos USB usados em: set-top boxes, instrumentação biomédica, PDAs em geral, os mesmos sistemas de ponto de venda disponíveis para o Firewire e todo o nicho clássico do USB, como periféricos, impressoras, câmeras digitais, cartões de memória, entre outras coisas.

A disputa entre as 2 tecnologias é tão acirrada e imprevisível que muitos fabricantes, em vez de escolher uma das duas interfaces para colocar em seus produtos, começam a oferecer ambas. Já podemos encontrar neste caso equipamentos como gravadores externos de CD/DVD, HDs externos, hubs, entre outros.



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