1. Visão geral do WiMAX
A possibilidade de se utilizar diversas aplicações multimídia, que requerem altas taxas de transmissão, e o grande volume de dados proporcionado pela Internet em banda larga (broadband) fizeram dela uma opção muito atraente, o que pode ser verificado pelo crescimento de aproximadamente 20.000% nas últimas duas décadas (figura 1). O conceito de banda larga sem fio (wireless broadband) consiste em unir estas vantagens da Internet em banda larga aos benefícios únicos do acesso sem fio (wireless), como portabilidade. Dentro deste âmbito, há dois tipos de serviços: os serviços fixos, que são semelhantes aos serviços de banda larga tradicional, mas utilizam o ambiente (sem fio) como meio de transmissão, e os serviços móveis, que proporcionam também portabilidade (capacidade de movimentar-se), nomadicidade (capacidade de se conectar em locais diferentes) e mobilidade (capacidade de, em movimento, manter as conexões já efetuadas).
 
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Imagem 1: Quantidade de usuários de telefonia móvel, Internet e acesso em banda larga entre 1990 e 2006.
 
O termo WiMAX – sigla de Worldwide Interoperability for Microwave Access – é utilizado para ser referir à tecnologia de telecomunicações baseada nos padrões IEEE 802.16 de transmissão broadband wireless. Normalmente distingue-se os serviços fixos dos serviços móveis, o que deu origem aos termos WiMAX fixo e WiMAX móvel. Estas tecnologias têm que superar diversos desafios inerentes à transmissão de dados sem fio. O primeiro deles é o próprio meio de transmissão, que se torna nesta situação um obstáculo, devido a fatores como obstruções espaciais, movimento relativo entre pontos comunicantes, ruído e interferência de outros sinais. Isto é agravado ainda mais quando tratamos de transmissões NLOS (non-line-of-sight). Diversos efeitos negativos podem ser observados como conseqüência, como por exemplo:
  • Decaimento da intensidade do sinal: isto depende de muitos fatores, entre elas obstruções, terreno e a freqüência da onda portadora;
  • Bloqueio do sinal causado por grandes obstruções: este intenso decaimento de intensidade, conhecido como sombreamento, é ainda mais severo do que o decaimento usual da transmissão;
  • Largas variações no envelope do sinal recebido: o sinal propagado é refletido e refratado diversas vezes até chegar no receptor. Isto faz com que ele chegue segundo rotas muito diversas, o que causa variações muito intensas da amplitude do sinal;
  • Interferência inter-símbolos: em um ambiente multi-rotas, o atraso de transmissão dos símbolos pode fazer com que eles cheguem no receptor durante o período do símbolo seguinte, causando interferência. Quando tratamos de transmissões em altas taxas, isto se torna ainda mais complicado, visto que o tempo de existência de cada símbolo é menor;
  • Dispersão de freqüência: quando o receptor e o emissor estão em movimento relativo, a freqüência da onda portadora sofre dispersão segundo o efeito Doppler.

Outro desafio vem da escassez de recursos relativos ao espectro de rádio disponível. Permitir a comunicação de um número crescente de usuário através de um espectro limitado força a busca por soluções que utilizem este sinal de maneira mais eficiente, ainda mais se considerarmos que certas freqüências foram reservadas para uso comercial. Um conceito fundamental para se conseguir tal eficiência é a arquitetura celular, que consiste na cobertura de uma área através do emprego de diversas antenas com potência inferior, cada uma cobrindo uma área menor (chamada de célula), em vez do uso de apenas uma antena de alta potência. Estas células são subdivididas em setores, e estas células e setores são agrupados em clusters de forma que, dentro destes clusters, a alocação de freqüências para transmissão possa ser feita de forma inteligente, em um procedimento chamado de reutilização de freqüências. Além disso, também podem ser utilizadas técnicas como codificação e modulação adaptativa (variantes segundo a razão entre sinal e interferência/ruído) e multiplexação espacial (transmissão de fluxos independentes feitas em paralelo por antenas diferentes), além de técnicas multiacesso eficientes.
Também são desafios nas transmissões sem fio a garantia de qualidade de serviço (quality of service – QoS), devido à alta instabilidade do meio, e a garantia de segurança, visto que trata-se de um meio aberto, mais propenso a invasões. Aos serviços móveis associamos a provisão de mobilidade e portabilidade, inexistentes nas comunicações com fios. Deve-se garantir também a compatibilidade com o protocolo IP, que é, com ampla vantagem, o protocolo de rede mais utilizado atualmente.
Nos próximos tópicos veremos brevemente o surgimento do WiMAX e as soluções que ele provê para estes diversos desafios.