Além dos interesses destacados na introdução, os críticos tentam mostrar interesses
extras
para as empresas motivadas no TCPA. É óbvio que empresas criadoras de conteúdo de mídia,
como a Disney, apóiam o TCPA na iniciativa de suportar DRM e evitar a pirataria de dados.
Empresas de "software" também. Mas quais outros interesses motivariam, por exemplo, a
Intel?
Para a Intel, que começou com todo este esquema do TCPA, esta era uma estratégia
defensiva. Como a Intel faz a grande parte do seu dinheiro a partir de microprocessadores de
PC e possui a maior parte do mercado, ela poderá crescer apenas se aumentar o tamanho do
mercado. A Intel está determinada de que o PC será o "hub" da rede caseira do futuro. Se o
entretenimento será uma aplicação vital e se DRM será a tecnologia habilitadora crítica, então
o PC deve realizar DRM ou se arrisca a sair do mercado caseiro. Uma primeira tentativa veio
com o número serial dos processadores Pentium 3, em meados dos anos 90, mas devido à
reação adversa do público, a Intel recuou e esperou para realizar um consórcio (TCPA) com a
Microsoft e outras empresas. E quais seriam os interesses extras da Microsoft, por exemplo?
"We came at this thinking
about music, but then we realized that e-mail
and documents were far more interesting domains."(Bill Gates)
Microsoft, que agora está impulsionando a TCG, possui duas razões principais para
isso: A
primeira, e menos importante, é que ela poderá cortar dramaticamente a pirataria de
"software". Com as especificações TCPA, a Microsoft pode amarrar cada PC à sua cópia
individual e licenciada do Office e Windows, e eliminar as cópias ilegais de Office e Windows
do maravilhoso universo TCPA.
O segundo, e mais importante, benefício para a Microsoft é que o TCPA aumentará,
dramaticamente, os custos de mudança de produtos Microsoft (como o "Office") para produtos
rivais (como "OpenOffice"). Vale ressaltar que estudos econômicos respeitados concluem que
o valor de um negócio relacionado a "software" é, aproximadamente, igual aos custos totais
de
seus clientes mudando para seu competidor.
Por exemplo, algum tempo atrás, quando compatibilidade significava trabalhar com vários
formatos de arquivos, mesmo os concorrentes, existia um conflito real - quando "Word" e
"Word Perfect" lutavam pela dominância do mercado, cada um tentava ler os arquivos do outro
e fazer com que o outro não pudesse ler seus arquivos. Mas, com a TCPA, o jogo está
terminado; sem o acesso às chaves, pode garantir- se que os arquivos não serão lidos pelo
concorrente, ou até mesmo, pode garantir-se que arquivos sejam rejeitados pelo aplicativo
TCPA se foram criados com cópias de uma versão anterior deste mesmo "software", mas
cujos números seriais foram colocados em listas negras de cópias piratas.
Embora na Europa, a "EU Software Directive" permita que companhias européias façam
engenharia reversa nos produtos dos seus competidores no intuito de produzir compatibilidade
e produtos mais competitivos, estas leis, na maioria dos casos, apenas garantem o direito de
tentar, e não de conseguir realizar isto!
Então, uma firma de advocacia que pretende mudar de "Office" para "OpenOffice" agora,
simplesmente precisa instalar o "software", treinar a equipe e converter os arquivos existentes.
Em cinco anos, uma vez que esta firma tiver recebido documentos protegidos por TCPA de,
talvez, mil clientes diferentes, ela precisará conseguir permissões (na forma de certificados
assinados digitalmente) de cada um destes clientes para migrar os seus arquivos para a nova
plataforma. A firma, na prática, não estará interessada nisso. Então, estará muito mais
amarrada aos produtos da Microsoft, que poderá impor seus preços.
Estas empresas têm interesse também no aumento da prática de comércio e pagamentos
eletrônicos. Muitas das funcionalidades dos cartões bancários poderiam ser passados para
"software", uma vez que os aplicativos se tornarão seguros com a TCPA. Desta forma, se, no
espaço de tempo de dez anos, será inconveniente realizar compras "online" com seu cartão
de crédito a menos que você esteja utilizando uma plataforma TCPA, então a situação ficará
complicada para os usuários GNU/Linux.
Além disso, se a maioria dos desenvolvedores de "software" habilitarem seus
aplicativos para
a especificação TCPA e se o "Windows" for o primeiro sistema operacional a suportar a TCPA,
então ele adquirirá uma maior vantagem competitiva sobre o GNU/Linux junto à comunidade
desenvolvedora.
A questão fundamental é que qualquer um que controle a infraestrutura TCPA estará
adquirindo uma enorme quantidade de poder. E existem diversas formas em que este poder
pode ser abusivo. Imaginem que o ambiente de computação já fosse totalmente TCPA; e
imaginem que o governo norte-americano julgasse a atitude da imprensa como uma atitude
não patriótica, no ato da divulgação das fotos das "brincadeiras" dos combatentes norte-
americanos, no Iraque. Certamente o poder TCPA seria utilizado rapidamente na forma de
censura.