1. Introdução
     
     Rede de sensores sem fio é uma composição de nós que se intercomunicam transmitindo – de maneira otimizada – informações coletadas em um dado meio, a fim de monitorar as atividades deste.

     Para tanto, é necessária a escolha e aplicação de dispositivos (o que inclui o sensor, a fonte de alimentação e o elemento de transmissão, em um modelo mais simples) e do protocolo de comunicação.

     Nesse sistema, contudo, deve-se ter maior cuidado com as suas limitações, que se dão principalmente no consumo de energia, a latência e a confiabilidade da comunicação.

     Aplicadas de maneira bem planejada, as redes de sensores sem fio representam importantes instrumentos de controle e monitoramento, empregados muitas vezes em ambientes inóspitos à presença humana.
1.1 Tecnologia Wireless
 
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Figura 1 – Manchete da primeira transmissão wireless à longa distância da História
    Em 1896, Popov transmitiu em Morse [4], a uma distância de 250 metros, o nome “Heinrich Hertz”, que se tornou, portanto, a primeira mensagem da telegrafia sem fio da História. Quase ao mesmo tempo, Marconi inventou antenas de formas variadas e realizou, sucessivamente na Itália e na Inglaterra, radiotransmissões marítimas, percorrendo inicialmente vários quilômetros, depois atravessando o canal da Mancha, em 1899. Apesar de extremamente útil e bem aceita, a comunicação sem fio não mostrou avanços significativos de início, sendo limitada pela tecnologia disponível em cada década desde sua concepção. Somente a partir dos anos 60 e 70 é que novas técnicas – e então serviços – guinaram a rápida evolução deste tipo de comunicação. Tais avanços (em especial da eletrônica digital) apontam sempre para a miniaturização, confiabilidade e eficiência (em alcance e uso de energia) dos dispositivos.

    Atualmente, equipamentos wireless são utilizados em grande número de aplicações, a citar:
  • Sistemas de segurança, desde a utilização de rádios para comunicação entre pontos até mesmo bloqueadores de frequência, como aqueles encontrados em prisões;
  • Global Positioning System. Satélites GPS circundam a Terra duas vezes ao dia, em órbitas precisas e transmitindo sinais de informação para o planeta. Receptores GPS tomam essa informação e utilizam triangularização (essencialmente comparam o tempo que o sinal foi transmitido e recebido) para determinar a posição exata do usuário. Tal funcionamento está ilustrado abaixo [2];
 
 
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Figura 2 –Funcionamento GPS
 
  • Internet. Com a explosão do número de celulares em funcionamento mundo afora, mostrou-se conveniente a capacidade de acessar a Internet através deles, o que se faz possível por WAP (Wireless Application Protocol) que consiste em uma pilha de seis diferentes protocolos os quais possibilitam uma navegação básica, otimizando o desempenho em relação às limitações quanto taxa de transferência, tamanho e legibilidade das páginas;
  • Comunicação entre periféricos de computadores pessoais e industriais. Para isto, existem diversas técnicas de transmissão, como Bluetooth, infravermelho ou mesmo radiofrequência;
  • Telefonia celular, que conta, somente no Brasil, com 150 milhões de aparelhos em funcionamento e oito grandes operadoras;
  • Transmissão de energia elétrica, sendo um dos exemplos mais notáveis o avião canadense SHARP (Stationary High Altitude Relay Platform) [1] concebido nos anos 80 e capaz de voar em círculos, a cerca de 21km de altitude por meses.
 
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Figura 3 –Avião SHARP
     
     Para sua alimentação, faz-se necessário um transmissor de micro-ondas baseado no solo e com alcance que incluía a rota de voo da máquina. Nesta, uma antena retificadora recebe a onda de energia, transmite-a para diodos que, chaveando, direcionam a corrente elétrica às partes do avião que necessitem de alimentação.

    De acordo com o professor Simon Saunders, no livro [5], especialista em comunicações sem fio, professor visitante da University of Surrey e fundador da realWireless –Professional Wireless Expertise, a tecnologia sem fio pode ser dividida em três eras:
  • 2007 a 2011 –Proliferação;
  • 2012 a 2016 –Similaridade;
  • 2017 a 2026 –Mundanidade.
 
     A primeira era caracteriza-se pelo aumento do número de aplicativos de grande volume de dados, produzindo sobrecarregamento nas redes sem fio existentes. Desses aplicativos, destacam-se always-on e-mail, serviços de mensagem instantânea e TV móvel. Ainda no campo de serviços, estações-base para celulares domésticos (“femto cells”) são extensivamente empregadas e utilizadas para prover melhorias nos serviços para celular. A respeito dos dispositivos, evidencia-se o aumento na capacidade de armazenagem de dados, a ponto de tornar possível a criação de canais de informação personalizados nos dispositivos a partir do fluxo de informações sincronizadas, evolução das tecnologias de podcast.

    A segunda era, de similaridade, recebe este nome por conta da aproximação dos diferentes sistemas sem fio em um todo cada vez mais coerente. Verifica-se nesta era um maior emprego de automação em edifícios para controle de sistemas de iluminação e refrigeração, por exemplo, alavancado pela alta dos preços sobre fontes de energia; crescimento das aplicações de curto- alcance em alta velocidade para distribuição de dados; maior consolidação entre operadoras fixas e móveis; união dos meios em “meta-padrões”, permitindo o uso flexível do melhor esquema disponível para um dado ambiente de aplicação e por fim o destaque das transmissões digitais sobre redes dedicadas.

    Finalmente a terceira era, mundanidade – pela presença do wireless em um ou vários estágios de qualquer troca de dados, transação financeira, etc. – conta com o sem fio sendo uma tecnologia embarcada, empregada na maioria das aplicações; difusão da automação sem fio nos edifícios e redes em lares e prédios públicos; separação entre provedores de serviços, operadoras de rede e provedores de conteúdo, porém com compartilhamento de infraestrutura. O traço mais marcante, no entanto, é a alocação flexível de serviços na interface aérea apropriada, banda de frequência e grupo de antenas sobre infraestrutura programável de banda-larga com grande número de pontos de serviço e extenso processamento de sinais para melhor selecionar a combinação tempo/espaço/frequência para um dado serviço em um dado instante.

    Todas essas previsões foram feitas a partir da experiência própria do professor Simon Saunders. Muitas delas poderão se tornar realidade (inclusive na época prevista), mas outras podem sequer sair do papel.

1.2 Arquitetura
    
      Dadas as tecnologias expostas anteriormente, pode-se propor a seguinte arquitetura básica [6] de um nó sensor em uma rede de sensores sem fio:
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Figura 4 –Arquitetura de um nó sensor
  • Fonte de alimentação: Atendendo à necessidade de ser flexível no deslocamento, um nó-sensor é alimentado em geral por uma bateria, podendo ainda, no entanto, ser alimentado por uma fonte fixa (o que depende muito de sua localização e infraestrutura na qual está inserido) ou ainda ser capaz de se autocarregar – energia solar, por exemplo.
  • Unidade de processamento: Cada dispositivo deve processar as informações que ele próprio coletou, bem como as que são transmitidas a ele. Atualmente, buscando a redução de custos, os processadores utilizados têm baixo poder computacional (próximos de 8-bit 16MHz) e executam sistemas operacionais próprios para eles – TinyOS, a citar. É bastante provável, todavia, que ao longo de uma rede exista um ou mais nós com maior poder de processamento, sendo estes, portanto, escalados para nós-líderes.
  • Unidade de transmissão: Rádio de curto alcance e baixa transmissão de dados, de acordo com o protocolo empregado. É o componente do nó que em geral consome mais energia.
  • GPS: É comum, ainda, encontrar um dispositivo GPS (Global Positioning System) em uma rede de sensores sem fio, pois muitas aplicações levam em conta o posicionamento do sensor para análise dos dados que este coleta. Em determinados casos não é possível utilizar um satélite para determinar a localização do dispositivo, sendo esta determinada indiretamente através de algoritmos de localização baseados no mapa inicial de espalhamento dos sensores (que deve ser previamente conhecido).
 
1.3 Aplicações
     
     A partir do uso de nós sensores, é possível obter informação continuamente de variáveis observáveis. Ao empregar esses dados, em conjunto com atuadores, pode-se estabelecer um sistema de controle em tempo real. Este tipo de sistema é amplamente utilizado nas mais diversas áreas. Dentre estas, destacam-se as aplicações militares, ambientais, industriais, bem como de saúde e monitoramento de estruturas. Existem diversas outras, que serão citadas posteriormente.
Militar
     Uma das mais importantes e motivadoras aplicações é a militar. Por ser estratégico, este tipo de emprego recebe muito investimento. Nos Estados Unidos, o programa militar [7] SensIT (Sensor Information Technology)  no início dos anos 2000, foi responsável por um grande avanço no uso das redes sem fio e motivou o uso dessa tecnologia em outras aplicações não militares.

     A inteligência no campo de batalha é significativamente aumentada, uma vez que os sensores podem detectar inimigos ou aliados, descobrir o número de combatentes, sua posição e rastreá-los. Também é crucial usá-los para identificar armas nucleares e químicas, sem necessitar de arriscar a vida de soldados.

     Além disso, uma das grandes vantagens das RSSF nessa aplicação está no fato de serem transportadas mais facilmente e rapidamente, podendo ser espalhadas no local de combate. Porém, é necessário grande cuidado, sendo essencial criptografar os dados para evitar a interceptação pelos oponentes.

     No futuro, as RSSF podem ser decisivas em um cenário militar. Isto motivará mais ainda a pesquisa, que pode contribuir para uma maior eficiência em outras áreas de utilização.
Ambiental
 
     Outra importante aplicação das RSSF é o monitoramento ambiental. Para se mapear a biodiversidade e estudar uma população ou determinada espécie, atualmente é preciso que um pesquisador esteja no ambiente analisando as características. O problema é que o próprio fato de se introduzir um observador no meio pode alterar o comportamento das espécies, prejudicando a precisão da pesquisa e os seus resultados.
     
     Se uma RSSF for implantada, por exemplo, em uma floresta ou um oceano, existe a vantagem da eliminação desse efeito. Dessa forma, serão obtidos dados muito mais precisos. Ainda, é possível espalhar um número enorme desses sensores – da ordem de milhares, obtendo muito mais dados sobre diversos pontos do ambiente que um grupo de pesquisadores conseguiria obter por inspeção. A flexibilidade da rede sem fio é fundamental já que em ambientes complicados como estes seria inviável ter uma fiação atravessando o meio.
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Figura 5 –Monitoramento ambiental com RSSF
     
     Os dados de cada sensor seriam enviados para uma pequena estação no próprio local e repassados por satélite para uma central em qualquer lugar do mundo, aonde a informação seria estudada. Esse procedimento [8] já foi realizado na ilha “Great Duck Island” pela Universidade da Califórnia, aonde ninhos de pássaros eram monitorados por sensores dentro e fora deles e os dados enviados por satélite para a internet.

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Figura 6 – Transmissão de uma RSSF. Os sensores enviam seus dados para o nó coordenador, que os repassa para a estação local e finalmente ao usuário pela internet. O usuário também pode enviar um comando, que fará o caminho reverso até o sensor destino [44].

     Além do estudo de espécies, é desejável usar sensores sem fio em uma grande cidade para obter informações sobre clima, temperatura média, umidade, pressão atmosférica, luminosidade ou poluição de um local. Com todo esse conhecimento é plausível traçar metas para melhorar um ambiente poluído ou prever mudanças de tempo e clima, permitindo melhorar a qualidade de vida e precaver a população de enchentes/inundações.
Monitoramento de Estruturas
     Mais uma importante aplicação é o monitoramento sísmico em superfícies e estruturas. É fundamental saber nas construções civis - tal como pontes, prédios, estradas – a condição da estrutura. Esta sofre com o efeito do tempo ou de tremores, podendo apresentar falhas (rachaduras).   

     Seria importante utilizar sensores sem fio para monitorar essas estruturas, uma vez que com eles é possível medir em tempo real e com precisão os níveis de tremor ou o tamanho de rachaduras, que poderiam evoluir e causar um desastre. Também seria interessante para quantificar os danos estruturais após um terremoto.

     Os sensores podem ser colocados embutidos na superfície ou adaptados sobre ela. Uma rede pode ser estabelecida com eles, provendo as informações que com as técnicas de hoje são mais lentas e custosas de se obter e muitas vezes menos precisas, como a inspeção visual. Os dados então seriam enviados para uma central de monitoramento, que alertaria sobre os riscos.

     No futuro, há ideias de controlar, através de uma RSSF, uma grande estrutura que sofre com abalos.  A rede informaria em tempo real o grau de perturbação em diversos pontos da superfície e um sistema de atuadores poderia compensar o distúrbio, mantendo a superfície sempre horizontal.
Industrial
    
      Em indústrias é importante o emprego de sensores sem fio para o controle dos processos de fabricação. Conhecer a temperatura, pressão e concentração de determinada substância, é fundamental para a automatização do processo.

     Esses dados dos sensores serão passados a um computador em tempo real e assim pode-se calcular e ajustar cada uma das variáveis para o exato valor desejado. Por exemplo, se o sistema verificar que é preciso mais calor, um sinal imediato será enviado para que se aumente a taxa de combustão ou o fluxo de calor para o local de produção.

     Uma RSSF é mais interessante porque é menos custosa nesse ambiente, facilita a manutenção – fios são mais difíceis de serem reparados em um local de difícil acesso - e possui uma flexibilidade maior para instalação e atualizações.

     À medida que as redes forem aumentando sua confiabilidade e segurança, mais empresas optarão por seu uso.
Outras Aplicações
     Serão comentadas, agora, as outras aplicações que envolvem sensoriamento e controle para aplicações a curta distância:
  • Controle e Automação Predial – pode-se aumentar a segurança, realizar controle de acesso e economizar energia com iluminação por detector de presença;
 
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Figura 7 -  Sensor de presença infravermelho sem fio
  • Controle de qualidade em indústrias – realizar testes durante a fabricação de determinado produto. Pode-se incorporar o sensor durante a montagem e assim obter as informações sobre o estado da peça ou componente;
  • Prevenção de desastres – sensores podem identificar um incêndio e alertar rapidamente o sistema de segurança. Podem também ser usados para medir o nível de chuva e alertar sobre o risco de enchentes;
  • Automação comercial – controle de estoques, através de uma rede sem fio com sensores em vários ambientes, que alertam para a necessidade de repor determinado produto;
  • Medicina – para monitoramento de pacientes microssensores podem ser injetados na corrente sanguínea para detectarem níveis de substâncias importantes ou tóxicas no sangue. Também pode ser utilizado no auxílio a cirurgias e outros procedimentos médicos, bem como acompanhamento dos pacientes;
  • Supervisionar linhas de transmissão de energia ou gás – nesse caso, sensores são utilizados para verificar vazamentos ou irregularidades na tensão/pressão;
  • Extração de petróleo – é fundamental o emprego de sensores sem fio, pois é preciso medir os níveis das variáveis envolvidas em locais de complicado acesso;
  • Agricultura – o sensoriamento da umidade do solo é importante para controlar o nível de irrigação necessário. Os produtos tóxicos, como pesticidas, também podem ter suas quantidades estipuladas e então serem limitados;
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Figura 8 – Sensor de umidade
 
  • Observar e melhorar a qualidade do ar em um ambiente de trabalho ou residencial e aumentar a eficiência dos sistemas de ventilação e refrigeração, através da medição da temperatura, umidade e fluxo de ar;
  • Detectar e quantificar materiais radioativos ou químicos;
  • Trânsito de veículos nas grandes cidades – ajudar no controle do tráfego, através de informações obtidas por sensores que medem a quantidade de veículos transeuntes em cada ponto da cidade;
  • Segurança – instalando-se em locais estratégicos sensores de presença (movimento) ou calor, junto com câmeras, é possível vigiar de forma mais eficiente o ambiente desejado.
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Figura 9 – Sensor de movimento