5.2 Interesses Empresariais em TCPA
Além dos interesses destacados na introdução, os críticos tentam mostrar interesses extras para as empresas motivadas no TCPA. É óbvio que empresas criadoras de conteúdo de mídia, como a Disney, apóiam o TCPA na iniciativa de suportar DRM e evitar a pirataria de dados. Empresas de "software" também. Mas quais outros interesses motivariam, por exemplo, a Intel?
Para a Intel, que começou com todo este esquema do TCPA, esta era uma estratégia defensiva. Como a Intel faz a grande parte do seu dinheiro a partir de microprocessadores de PC e possui a maior parte do mercado, ela poderá crescer apenas se aumentar o tamanho do mercado. A Intel está determinada de que o PC será o "hub" da rede caseira do futuro. Se o entretenimento será uma aplicação vital e se DRM será a tecnologia habilitadora crítica, então o PC deve realizar DRM ou se arrisca a sair do mercado caseiro. Uma primeira tentativa veio com o número serial dos processadores Pentium 3, em meados dos anos 90, mas devido à reação adversa do público, a Intel recuou e esperou para realizar um consórcio (TCPA) com a Microsoft e outras empresas. E quais seriam os interesses extras da Microsoft, por exemplo?
"We came at this thinking about music, but then we realized that e-mail and documents were far more interesting domains."(Bill Gates)
Microsoft, que agora está impulsionando a TCG, possui duas razões principais para isso: A primeira, e menos importante, é que ela poderá cortar dramaticamente a pirataria de "software". Com as especificações TCPA, a Microsoft pode amarrar cada PC à sua cópia individual e licenciada do Office e Windows, e eliminar as cópias ilegais de Office e Windows do maravilhoso universo TCPA.
O segundo, e mais importante, benefício para a Microsoft é que o TCPA aumentará, dramaticamente, os custos de mudança de produtos Microsoft (como o "Office") para produtos rivais (como "OpenOffice"). Vale ressaltar que estudos econômicos respeitados concluem que o valor de um negócio relacionado a "software" é, aproximadamente, igual aos custos totais de seus clientes mudando para seu competidor.
Por exemplo, algum tempo atrás, quando compatibilidade significava trabalhar com vários formatos de arquivos, mesmo os concorrentes, existia um conflito real - quando "Word" e "Word Perfect" lutavam pela dominância do mercado, cada um tentava ler os arquivos do outro e fazer com que o outro não pudesse ler seus arquivos. Mas, com a TCPA, o jogo está terminado; sem o acesso às chaves, pode garantir-   se que os arquivos não serão lidos pelo concorrente, ou até mesmo, pode garantir-se que arquivos sejam rejeitados pelo aplicativo TCPA se foram criados com cópias de uma versão anterior deste mesmo "software", mas cujos números seriais foram colocados em listas negras de cópias piratas.
Embora na Europa, a "EU Software Directive" permita que companhias européias façam engenharia reversa nos produtos dos seus competidores no intuito de produzir compatibilidade e produtos mais competitivos, estas leis, na maioria dos casos, apenas garantem o direito de tentar, e não de conseguir realizar isto!
Então, uma firma de advocacia que pretende mudar de "Office" para "OpenOffice" agora, simplesmente precisa instalar o "software", treinar a equipe e converter os arquivos existentes. Em cinco anos, uma vez que esta firma tiver recebido documentos protegidos por TCPA de, talvez, mil clientes diferentes, ela precisará conseguir permissões (na forma de certificados assinados digitalmente) de cada um destes clientes para migrar os seus arquivos para a nova plataforma. A firma, na prática, não estará interessada nisso. Então, estará muito mais amarrada aos produtos da Microsoft, que poderá impor seus preços.
Estas empresas têm interesse também no aumento da prática de comércio e pagamentos eletrônicos. Muitas das funcionalidades dos cartões bancários poderiam ser passados para "software", uma vez que os aplicativos se tornarão seguros com a TCPA. Desta forma, se, no espaço de tempo de dez anos, será inconveniente realizar compras "online" com seu cartão de crédito a menos que você esteja utilizando uma plataforma TCPA, então a situação ficará complicada para os usuários GNU/Linux.
Além disso, se a maioria dos desenvolvedores de "software" habilitarem seus aplicativos para a especificação TCPA e se o "Windows" for o primeiro sistema operacional a suportar a TCPA, então ele adquirirá uma maior vantagem competitiva sobre o GNU/Linux junto à comunidade desenvolvedora.
A questão fundamental é que qualquer um que controle a infraestrutura TCPA estará adquirindo uma enorme quantidade de poder. E existem diversas formas em que este poder pode ser abusivo. Imaginem que o ambiente de computação já fosse totalmente TCPA; e imaginem que o governo norte-americano julgasse a atitude da imprensa como uma atitude não patriótica, no ato da divulgação das fotos das "brincadeiras" dos combatentes norte-  americanos, no Iraque. Certamente o poder TCPA seria utilizado rapidamente na forma de censura.