A tecnologia P2P em geral transformou o uso da Internet. Juntamente com o avanço das tecnologias de compressão de áudio e vídeo, permitiu que usuários em qualquer canto do mundo trocassem arquivos de áudio, e com o aumento da largura de banda disponível, vídeo. E além disso, o advento de redes P2P para streaming permitiu que usuários fizessem suas próprias transmissões, em tempo real, e a um custo muito baixo, em comparação com as estruturas de broadcast existentes anteriormente. Isso mudou o perfil do usuário das redes, possibilitando que, de mero consumidor de conteúdo, ele passasse também a ser produtor e distribuidor de conteúdo.
Isto preocupa, porém, alguns segmentos da sociedade e do mercado. Primeiro, os produtores e distribuidores de conteúdo do modelo "pré-P2P". Como as redes P2P tornam prático o compartilhamento de arquivos, músicas, filmes, jogos de computador, e diversos tipos de conteúdo digital, esses conteúdos passaram a ser trocados livremente pelos usuários, também a custos muito baixos. O impacto disso nas vendas de conteúdo levou as associações da indústria de conteúdo a chegar a processar usuários e distribuidores de software P2P por violação de direitos autorais.
As redes P2P para streaming estendem essa preocupação às estações de TV paga. Redes de vídeo P2P vêm sendo usadas para retransmitir programação de TV paga de diversos países, e qualquer pessoa com uma conexão de banda larga à Internet pode, apenas baixando o software "cliente" da rede, assistir à programação com uma qualidade razoável sem pagar à estação [17].
Isto, além do apresentado no parágrafo acima, mostra como esta tecnologia é disruptiva em relação aos modelos de negócio existentes, e o quanto a indústria de conteúdo terá de se modernizar para lidar com a nova tecnologia. Isto é evidenciado pelo sucesso de plataformas de distribuição de conteúdo na forma de download de arquivos, como o iTunes, da Apple, e o Steam, da Valve.
Outro setor que se preocupa com a disseminação das redes P2P é o dos provedores de infraestrutura. A rede típica de um provedor de serviço de Internet (ISP, Internet Service Provider) é, como dito na seção 3.3, assimétrica. Isto significa que os usuários têm maior banda para tráfego recebido (download) do que para tráfego gerado (upload).
O dimensionamento da rede da maioria dos ISPs foi feito levando em consideração o modelo "tradicional", onde o usuário é mais consumidor, e a disseminação das redes P2P e seu uso intensivo gerou uma quantidade de tráfego de upload que as redes não foram projetadas para suportar; além disso, as redes são dimensionadas de uma forma tal que o tempo ocioso de um usuário é aproveitado para prover banda para outros. Com o uso intensivo de P2P esse tempo diminui, exigindo também capacidade adicional de download, o que acaba gerando custos para os ISPs.
Para mitigar esse problema, os ISPs começaram a empregar uma técnica conhecida como traffic shaping (conformação de tráfego), que consiste em analisar os dados contidos nos pacotes trafegados e estabelecer prioridades para cada tipo de tráfego. Vem sendo usada pelos ISPs para analisar os dados trafegados pelos usuários e bloquear, ou reduzir drasticamente a taxa do tráfego que não interessa a eles (por exemplo, tráfego P2P [18]).
Isto porém gera controvérsia: existem argumentos de que os ISPs poderiam usar controles de tráfego para criar uma diferenciação artificial de serviços, levantando barreiras à entrada de pequenos produtores e distribuidores de conteúdo, além de estabelecer uma forma de censura por interesses comerciais. Se propõe que a rede deveria ser neutra com relação ao conteúdo, ou seja, não deveria haver discriminação por tipo de tráfego gerado pelo usuário [19][20].