ARQUITETURA
Uma vez que o objetivo é construir uma rede de comunicação entre veículos, é necessário definir qual tecnologia será utilizada. A natureza dessa rede requer uma tecnologia sem fio, porém existem várias, como as redes de celular (LTE, GSM, entre outras), as WLAN’s (Wireless Local Area Networks – 802.11 a/b/g/e/n) e Bluetooth. Dentre as tecnologias mencionadas, as redes de celular apresentam latência inapropriada às comunicações em redes veiculares, além de haver possíveis quedas de conexão, porém não é de toda descartada, pois podem oferecer serviços valiosos para esses ambientes. Quanto às redes locais (WLAN’s), os projetos já existentes da família IEEE 802.11 não suportavam as comunicações V2V e V2I, principalmente porque as redes veiculares possuem características singulares, conforme visto na seção Características, as quais trazem desafios não contemplados na especificação dessas tecnologias. Por fim, as redes construídas sobre a tecnologia Bluetooth também apresentam desvantagens quando aplicadas às redes veiculares, tais como a limitação do número de nós e a baixa taxa de transferência.
Era necessário, portanto, o desenvolvimento de uma tecnologia padronizada e específica para o ambiente veicular. Essa iniciativa começou com a alocação da faixa de comunicação de curto alcance dedicada (DSRC – Dedicated Short Range Communications), em 1999, pelos Estados Unidos, consistindo de 75 MHz na faixa de 5,9 GHz, dividida em sete canais (ver ). Em 2004, o IEEE deu início à uma emenda ao padrão 802.11 para adaptá-lo às requisições das redes veiculares, tornando-se conhecida como 802.11p. Essa emenda define as alterações na camada Física e de Enlace. Quanto às camadas superiores, o grupo IEEE 1609 ficou responsável por desenvolver as especificações. Os padrões IEEE 802.11p e IEEE 1609 definem juntos a arquitetura WAVE (ver ). Alguns dos documentos são mencionados abaixo.
IEEE 1609.0 (2019): Descreve a arquitetura WAVE e serviços necessários para dispositivos WAVE se comunicarem em um ambiente veicular móvel.
IEEE 1609.1 (2006): Especifica a aplicação DSRC (Dedicated Short Range Communication), conhecida como Gerenciador de Recursos WAVE (RM – Resource Manager), desenvolvida para permitir às aplicações em locais remotos se comunicarem com os OBU’s através de RSU’s.
IEEE 1609.2 (2017): Descreve os formatos e processamentos de mensagens seguras para uso por dispositivos WAVE. Também descreve funções administrativas necessárias para suportar as principais funções de segurança.
IEEE 1609.3 (2010): Especifica os serviços para as camadas de Rede e Transporte. Há a novidade de que o WAVE suporta duas pilhas de protocolo: IPv6 e WSMP (WAVE Short-Message Protocol), isso porque há comunicações de alta prioridade e sensíveis ao tempo e outras em que não os resultados de uma comunicação com maior atraso ou perda não são críticas.
Tal arquitetura deve suportar comunicações V2V e V2I. Para tanto, dois componentes são fundamentais e compõem o sistema WAVE: as unidades de bordo (OBU’s – On-Board nits), localizados nos veículos, e as unidades de acostamento (RSU’s – RoadSide Units), fixos em estruturas às margens das vias, como postes e semáforos. As OBU’s possibilitam a comunicação V2V, realizam o roteamento entre os nós e o controle de congestionamento, fornecem segurança aos dados, utilizam serviços das RSU’s, dentre outras funções. Em suas estruturas, são compostas por um processador de comandos de recursos (RCP – Resource Command Processor) e seus recursos, que incluem uma memória de leitura e escrita, uma interface de usuário e uma interface especializada para conectar a outras OBU’s e um dispositivo para comunicação de curto alcance baseado na tecnologia IEEE 802.11p. Por outro lado, as RSU’s possibilitam a comunicação V2I e hospedam aplicações que ofereçam serviços, tais como acesso à outras redes ou serviços que reunam informações de vários veículos com uma comunicação direta – sem veículos intermediários, reduzindo o atraso das mensagens. Além disso, elas podem aumentar o alcance das redes veiculares retransmitindo as mensagens para outras OBU’s ou RSU’s. São equipadas com um dispositivo de rede para comunicação de curto alcance baseado na tecnologia IEEE 802.11p e pode ser equipada com outros dispositivos de rede para conectá-las à outras infraestruturas de rede.
Uma outra abordagem para a arquitetura pode ser feita com relação às aplicações. Em arquiteturas de redes do tipo 802.11, existem os Conjuntos de Serviços (SS – Service Set), de modo que duas estações podem se comunicar uma com a outra se elas pertencerem ao mesmo SS. Três tipos de SS estão definidas: Basic Service Set (BSS), Independent BSS (IBSS) e Extended Service Set (ESS).
Basic Service Set (BSS): Inclui um ponto de acesso (AP – Access Point), que se comporta como uma estação controladora.
Independent BSS (IBSS): É formado por estações sem a necessidade de infraestrutura. Geralmente, é chamada de Ad-hoc Network.
Extended Service Set (ESS): Consiste da união de duas ou mais BSS’s conectadas por um Sistema de Distribuição (DS – Distribution System).
Uma estação em IBSS que se comporte como um ponto de acesso de BSS transmite periodicamente uma sinalização contendo o SSID (Service Set IDentification) do serviço que ela oferece. No ponto de vista das outras estações, ao receber essa sinalização, ela pode ingressar ao serviço sincronizando seu tempo e frequência com aquele contido na sinalização. Não há problema em usar essa arquitetura para as aplicações WAVE, porém não é eficiente naquelas voltadas para a segurança, pois vários passos são exigidos para a formação de um SS, como sincronização, autenticação e associação, sendo mais ideal a utilização de mensagens pelo protocolo WSMP, que pode pular essas etapas (ver Protocolos). Nas redes veiculares, o correspondente à estação que inicia o serviço é o Dispositivo Provedor, o qual transmite Anúncios de Serviços WAVE (WSA – WAVE Service Advertisement) para indicar a disponibilidade para troca de mensagens a um ou mais Canais de Serviço (SCH – Service Channel). Por outro lado, as estações que recebem as sinalizações são equivalentes aos Dispositivos Receptores, os quais têm a possibilidade de ingressar no serviço após receber um WSA.